terça-feira, setembro 25, 2007
Ser diferente é a vantagem
Algumas coisas são realmente estranhas. Temos um sistema operacional livre, na verdade temos vários, mas um deles tem seu nome divulgado em jornais e notícias ao redor do mundo todo a cada dia. Mesmo aquele caderno de informática mequetrefe do jornal mais vendido capaz de proezas tais quais classificar a memória RAM como “capacidade de armazenamento” já falou de Linux. Alguns até de GNU/Linux. Outros já foram tão longe que já descobriram a existência dos BSDs e disseram aos quatro ventos que existe algo de graça na praça. Tão longe que até já mencionaram que existe algo livre e até tentaram explicar porque essas coisas são livres.
Minha vizinha, que sequer sabe o que é um compilador usa o Firefox, sobre o Windows é verdade, mas o faz por achar que é mais seguro que usar Explorer. Sua colega de apartamento atestou a escolha ao ver o notebook da positivo ser bombardeado por vírus e trojans ao navegar usando o Internet Explorer 7, que deveria ser mais seguro que o 6. Se foi o ovo ou a galinha o primeiro a aparecer, não sei. Tão pouco se o usuário de Firefox está acima da média e por isso navega de forma mais segura ou está mais seguro pelo navegador que escolheu.
Ainda assim quantos, dentre todos os usuários que ligam seus computadores todos os dias, sabem dessas coisas? Um amigo meu, usuário de Windows XP, passou por um problema engraçado. Com uma máquina da HP e placa de captura de TV ele viu o Windows sucumbir durante o cada boot graças ao driver da web cam que ele adquiriu para usar com o Skype. Quando fala-se das vantagens do Windows sobre o Linux sempre cita-se a abundância de drivers como uma vantagem. Afinal aquela placa ou dispositivo USB funciona ou não com o Linux? A pesquisa de compatibilidade de hardware do BR-Linux tenta ajudar. Mas será que aquele dispositivo também funciona com o Windows? Para meu amigo a restauração do sistema foi a salvação e a escolha definitiva entre ter um ou outro dispositivo instalado. A solução foi a mesma que seria para o Linux: escolher outra marca/modelo e tentar novamente.
Outra coisa que é muito comentada, essa até por Steve Balmer em certo momento, é sobre a integração fantástica das soluções da Microsoft. Grande vantagem sobre o software livre, uma colcha de retalhos, a integração faz com que o software da Microsoft funcione melhor. Tome por exemplo o pacote MS Office, que em sua versão 2003 eu conheço bem. A função “Localizar” pode ser acessada pela tecla F4 no Outlook, por CTRL+L no Excel, Word, Powerpoint, por CTRL+F no Internet Explorer 6 e por Win+F no próprio Windows. Bem, 4 formas diferentes de acessar a mesma função em softwares da mesma empresa é um belo exemplo de integração. Melhor que isso, a função condicional IF, tão conhecida de programadores e afins no mundo todo, é SE no Excel e Seimed no Access, ambos na versão 2003. Outro grande exemplo de integração, funções semelhantes com nomes diferentes. Exemplos não faltam para mostrar que o software da Microsoft sofre das mesmas esquizofrenias que softwares livres de desenvolvedores distintos. Talvez porque a Microsoft tenha, ao longo dos anos, comprado softwares e empresas para aumentar seu portfolio de produtos e suas equipes de desenvolvimento estivessem ocupadas demais com menus transparentes para sincronizar os atalhos.
Mas o estranho mesmo é que, ao longo do tempo, software livre e software não-livre estão se aproximando. Não existe mais o abismo antes testemunhado. As novas versões de KDE e Gnome apresentam efeitos gráficos avançados, tridimensionais, e estão mais pesadas pelo excesso de artifícios visuais. Da mesma forma que a interface Aero do Vista, KDE e Gnome têm avançado de forma tímida na usabilidade. Sejamos francos, KDE e Gnome buscam seguir os passos de outras interfaces na esperança de agradar o usuário médio. Não é certo e nem errado fazer isso. Mas eu já comentei várias vezes no passado que talvez a grande façanha do software livre seja ser diferente. E que qualquer busca pela semelhança possa ser um passo na direção errada. A Microsoft não esconde que luta para aproximar o Windows do UNIX em diversos aspectos. Em contraparte o Linux busca afastar-se do UNIX em muitos pontos.
O Firefox sempre buscou copiar alguém, na maior parte das vezes o alvo foi o Opera. De fato ele é original em poucas coisas. Na versão 3 o Firefox irá enviar ao Google cada URL que você digite em sua caixa de busca sob o pretexto de verificar se é um site de phishing. Mal posso imaginar que tipo de vantagem dá ao Google a visão sobre todas as URLs visitadas e pelo tempo que permanecem nelas um certo grupo de usuários (que é cada vez maior). Se serve de consolo essa opção é desligada em seu padrão. Não serve muito a mim pois eu esperava ver esse tipo de coisa no Internet Explorer, que já envia à Microsoft cada URL incorreta que você digita ao buscar por ela como palavras chave na Windows Live Search. Mas da Mozilla Foundation? Bem, as coisas mudam.
A IBM recompilou o OpenOffice que tem todos os seus destinos traçados pela Sun, não pela comunidade, com o nome da Lotus e tem seu próprio pacote de escritório. Rivalizando com o OpenOffice não acredito que este novo pacote, chamado Symphony, traga grandes avanços para a comunidade de usuários. Ao menos não tão grandes quanto para a IBM, que planeja ressucitar o nome da Lotus na produtividade do escritório. Qual o mérito, ou vantagem prática para nós, existe na escolha entre OpenOffice e Symphony se ambos usam a mesma base de código? Será a IBM uma déspota melhor e dará ao pacote livre que eu usarei destinos melhores que a Sun?
Não admira o kernel Linux ter cada vez menos desenvolvedores ativos. Conta com apenas 854 colaboradores na versão 2.6.23 dos quais 350 contribuíram com apenas um changeset. Alguns reclamam da dificuldade em mudar os rumos das coisas e de contribuir de verdade. Estranho que hoje, quando algumas empresas investem pesado no desenvolvimento do kernel, o número de desenvolvedores esteja diminuindo em vez de aumentar. Os programadores mais renomados tem seus salários pagos por grandes empresas e em lugar de uma fila enorme deles buscando essas oportunidades o número de colaboradores têm caído a cada release.
É claro que as empresas estão nessa por dinheiro e vão agir sempre da forma que mais acrescenda dólares aos seus balanços trimestrais. Mas talvez estejamos vendo os negócios matarem as galinhas que nos entregam ovos. Os grandes softwares livres podem estar aproximando-se dos concorrentes mantidos pela Microsoft apenas nos aspectos negativos. Versões distintas de um mesmo software que não apresentam grandes diferenças. Uso indevido de informações pessoais. Grande preocupação com características de importância discutível. Burocracia e inflexibilidade na estrutura de desenvolvimento que afasta a criatividade.
Certas coisas são engraçadas. Talvez o caos fosse o caminho mais lógico para mantermos as coisas em ordem para que continuem progredindo de verdade. A Apple é uma grande lição para isso, do que não se deve fazer. Para a Apple “pensar diferente” é fazer igual, o mesmo hardware, a mesma luta por direitos autorais, patentes e controle sobre o produto que o cliente compra e leva para casa. Precisamos escapar disso e lembrar de nossas origens. Aqui, ser diferente é uma vantagem e não um demérito.
Minha vizinha, que sequer sabe o que é um compilador usa o Firefox, sobre o Windows é verdade, mas o faz por achar que é mais seguro que usar Explorer. Sua colega de apartamento atestou a escolha ao ver o notebook da positivo ser bombardeado por vírus e trojans ao navegar usando o Internet Explorer 7, que deveria ser mais seguro que o 6. Se foi o ovo ou a galinha o primeiro a aparecer, não sei. Tão pouco se o usuário de Firefox está acima da média e por isso navega de forma mais segura ou está mais seguro pelo navegador que escolheu.
Ainda assim quantos, dentre todos os usuários que ligam seus computadores todos os dias, sabem dessas coisas? Um amigo meu, usuário de Windows XP, passou por um problema engraçado. Com uma máquina da HP e placa de captura de TV ele viu o Windows sucumbir durante o cada boot graças ao driver da web cam que ele adquiriu para usar com o Skype. Quando fala-se das vantagens do Windows sobre o Linux sempre cita-se a abundância de drivers como uma vantagem. Afinal aquela placa ou dispositivo USB funciona ou não com o Linux? A pesquisa de compatibilidade de hardware do BR-Linux tenta ajudar. Mas será que aquele dispositivo também funciona com o Windows? Para meu amigo a restauração do sistema foi a salvação e a escolha definitiva entre ter um ou outro dispositivo instalado. A solução foi a mesma que seria para o Linux: escolher outra marca/modelo e tentar novamente.
Outra coisa que é muito comentada, essa até por Steve Balmer em certo momento, é sobre a integração fantástica das soluções da Microsoft. Grande vantagem sobre o software livre, uma colcha de retalhos, a integração faz com que o software da Microsoft funcione melhor. Tome por exemplo o pacote MS Office, que em sua versão 2003 eu conheço bem. A função “Localizar” pode ser acessada pela tecla F4 no Outlook, por CTRL+L no Excel, Word, Powerpoint, por CTRL+F no Internet Explorer 6 e por Win+F no próprio Windows. Bem, 4 formas diferentes de acessar a mesma função em softwares da mesma empresa é um belo exemplo de integração. Melhor que isso, a função condicional IF, tão conhecida de programadores e afins no mundo todo, é SE no Excel e Seimed no Access, ambos na versão 2003. Outro grande exemplo de integração, funções semelhantes com nomes diferentes. Exemplos não faltam para mostrar que o software da Microsoft sofre das mesmas esquizofrenias que softwares livres de desenvolvedores distintos. Talvez porque a Microsoft tenha, ao longo dos anos, comprado softwares e empresas para aumentar seu portfolio de produtos e suas equipes de desenvolvimento estivessem ocupadas demais com menus transparentes para sincronizar os atalhos.
Mas o estranho mesmo é que, ao longo do tempo, software livre e software não-livre estão se aproximando. Não existe mais o abismo antes testemunhado. As novas versões de KDE e Gnome apresentam efeitos gráficos avançados, tridimensionais, e estão mais pesadas pelo excesso de artifícios visuais. Da mesma forma que a interface Aero do Vista, KDE e Gnome têm avançado de forma tímida na usabilidade. Sejamos francos, KDE e Gnome buscam seguir os passos de outras interfaces na esperança de agradar o usuário médio. Não é certo e nem errado fazer isso. Mas eu já comentei várias vezes no passado que talvez a grande façanha do software livre seja ser diferente. E que qualquer busca pela semelhança possa ser um passo na direção errada. A Microsoft não esconde que luta para aproximar o Windows do UNIX em diversos aspectos. Em contraparte o Linux busca afastar-se do UNIX em muitos pontos.
O Firefox sempre buscou copiar alguém, na maior parte das vezes o alvo foi o Opera. De fato ele é original em poucas coisas. Na versão 3 o Firefox irá enviar ao Google cada URL que você digite em sua caixa de busca sob o pretexto de verificar se é um site de phishing. Mal posso imaginar que tipo de vantagem dá ao Google a visão sobre todas as URLs visitadas e pelo tempo que permanecem nelas um certo grupo de usuários (que é cada vez maior). Se serve de consolo essa opção é desligada em seu padrão. Não serve muito a mim pois eu esperava ver esse tipo de coisa no Internet Explorer, que já envia à Microsoft cada URL incorreta que você digita ao buscar por ela como palavras chave na Windows Live Search. Mas da Mozilla Foundation? Bem, as coisas mudam.
A IBM recompilou o OpenOffice que tem todos os seus destinos traçados pela Sun, não pela comunidade, com o nome da Lotus e tem seu próprio pacote de escritório. Rivalizando com o OpenOffice não acredito que este novo pacote, chamado Symphony, traga grandes avanços para a comunidade de usuários. Ao menos não tão grandes quanto para a IBM, que planeja ressucitar o nome da Lotus na produtividade do escritório. Qual o mérito, ou vantagem prática para nós, existe na escolha entre OpenOffice e Symphony se ambos usam a mesma base de código? Será a IBM uma déspota melhor e dará ao pacote livre que eu usarei destinos melhores que a Sun?
Não admira o kernel Linux ter cada vez menos desenvolvedores ativos. Conta com apenas 854 colaboradores na versão 2.6.23 dos quais 350 contribuíram com apenas um changeset. Alguns reclamam da dificuldade em mudar os rumos das coisas e de contribuir de verdade. Estranho que hoje, quando algumas empresas investem pesado no desenvolvimento do kernel, o número de desenvolvedores esteja diminuindo em vez de aumentar. Os programadores mais renomados tem seus salários pagos por grandes empresas e em lugar de uma fila enorme deles buscando essas oportunidades o número de colaboradores têm caído a cada release.
É claro que as empresas estão nessa por dinheiro e vão agir sempre da forma que mais acrescenda dólares aos seus balanços trimestrais. Mas talvez estejamos vendo os negócios matarem as galinhas que nos entregam ovos. Os grandes softwares livres podem estar aproximando-se dos concorrentes mantidos pela Microsoft apenas nos aspectos negativos. Versões distintas de um mesmo software que não apresentam grandes diferenças. Uso indevido de informações pessoais. Grande preocupação com características de importância discutível. Burocracia e inflexibilidade na estrutura de desenvolvimento que afasta a criatividade.
Certas coisas são engraçadas. Talvez o caos fosse o caminho mais lógico para mantermos as coisas em ordem para que continuem progredindo de verdade. A Apple é uma grande lição para isso, do que não se deve fazer. Para a Apple “pensar diferente” é fazer igual, o mesmo hardware, a mesma luta por direitos autorais, patentes e controle sobre o produto que o cliente compra e leva para casa. Precisamos escapar disso e lembrar de nossas origens. Aqui, ser diferente é uma vantagem e não um demérito.
Comments:
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Excelente artigo. Sempre concordei que se aproximar (para não dizer imitar) Software Proprietário não é o melhor caminho para o Software Livre.
Não havia parado para pensar nesses aspectos negativos de agora. Realmente é preocupante.
[]s
Não havia parado para pensar nesses aspectos negativos de agora. Realmente é preocupante.
[]s
Essa opção de phishing já existe no Firefox 2: http://mozillalinks.org/wp/2007/09/the-firefox-conspiracy-its-fud-time-again/
Incrível que, mesmo essa opção estando lá 10 meses, seja apresentada como novidade. :)
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Incrível que, mesmo essa opção estando lá 10 meses, seja apresentada como novidade. :)
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