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sexta-feira, setembro 30, 2005

Mudança de rumo

Sabe, falei no último artigo sobre como a Microsoft vem mudando seu marketing anti-SL ao longo do tempo. E uma noticia que li (sobre a qual falarei adiante) me fez pensar sobre algumas coisas. Vamos à elas.

Argumentos microsoftnianos contra o SL em ordem cronológica:
- SL é produto de hobby de pessoas em suas horas vagas;
- SL não deve ser levado à sério;
- SL é ruim;
- SL até que é bom, mas é muito caro;
- SL é ilegal e viola patentes (via SCO);
- SL é bom e nem tão caro, mas tem TCO maior ao longo do tempo;
- SL é bom e é mais barato, mas tem TCO maior ao longo do tempo;
- SL é bom, mais barato e até pode ter TCO mais baixo, mas não consegue integrar-se para ser uma solução completa.

Foi mais ou menos essa a tragetória de publicidade da Microsoft em relação ao SL na ultima década. Além das contradições óbvias em relação às campanhas anteriores (por que como disse a Red Hat, a verdade acontece) essa última chamou-me a atenção por um ítem especial: sua deslavada cara de pau!

Todas as campanhas anti-SL da MS até agora não foram honestas, nem com o SL nem com os consumidores, mas tudo bem, marketing sujo é, e sempre foi, com ela mesmo. Mas dizer que SL não é integrável, ela a Rainha dos Formatos Proprietários e Incompatíveis, é soda como poderia dizer Fócrates ;-)

Eu já mudei de versão de OpenOffice 3 vezes e os arquivos de um sempre abrem no outro. Nunca consegui mudar de versão de MS Word 3 vezes e usar os mesmos documentos. Sempre tive que convertê-los e editar as discrepâncias que apareciam.

Assim, uma empresa usa Word 7. Um departamento adquire licenças do Word XP e começa a produzir documentos .doc nesse formato. O resto da empresa fica sem ler os documentos daquele departamento. Isso é uma solução integrada? Seria se a Microsoft, ao usar seu direito de melhorar um padrão e incluir novos recursos ampliasse esse direito aos clientes fornecendo um patch para as versões anteriores de seus próprios programas para que abrissem arquivos das versões mais novas. Mas daí como ela venderia o software novo para todo o mercado? As novas versões de MSWord deveriam vender pelo que elas possam agregar de recursos e de valor ao trabalho de seus usuários. Não deveriam vender apenas porque o formato de arquivo mudou.

Quando o Windows Media Player foi da versão 6 para a 7 era normal, para os usuários da versão mais antiga que alguns vídeos não pudessem ser abertos pois estavam em um novo formato. Falta de integração é prache na Microsoft.

A Microsoft tentou inclusive criar sua própria versão de Java (que só rodaria em sistemas Windows, o J#) mas foi impedida judicialmente de fazê-lo e obrigada a seguir os padrões originais da linguagem da Sun. Web sites desenvolvidos para os padrões do IE não abrem ou apresentam erros de formatação em todos os outros navegadores desrespeitando normas e padrões aprovados pelo W3C. Mas um site feito à risca para o W3C abre de maneira quase normal em IE, mostrando que este navegador tem um nível aceitável de compatibilidade com os padrões estabelecidos e provando que a MS não os adota por pura falta de vontade. Ou por estratégia de marketing.

E querer implementar ActiveX e .NET como padrão para Webservices, enquanto diz que o XML é a oitava maravilha do mundo em um jogo macabro de "vamos fazer tudo em XML para ser compatível, mas a visualização e tratamento serão feitos sob C# e VB".

Enquanto as organizações responsáveis por estabelecer normas e padrões de comunicação tentam estabelecer padrões abertos e intercambiáveis a MS sempre está tentando emplacar um formato que só ela usa (por ter sido a criadora do mesmo) e com a maior cara de pau do mundo Steve Ballmer fala que "SL é bom, mas o problema é ser muito difícil de integrar".

Software livre vai tentar usar padrões livres, até por questão de ética. Mas enquanto isso a Microsoft vende o software mais usado do mundo para edição de textos que usa um padrão de documento que nehum outro programa do mundo usa. É um formato tão proprietário que se outro programa da MS quiser abrir um .doc precisa abrir o MSWord primeiro. Nem outros programas da MS usam ou lêem esse formato, só o MSWord.

Enquanto que o .sxw do OpenOffice pode até ser editado com um editor de texto puro como o VI ou o EMACS pois é apenas XML comprimido.

Quem não é integrável nessa história toda, o SL OpenOffice ou o MSWord? o padrão de documentos do OpenOffice é aberto e documentado permitindo que as informações guardadas nestes formatos possam ser lidas por qualquer programa em qualquer ambiente.

Quando você instala um Windows, precisa sair instalando centenas de programas de terceiros para poder fazer algo de útil com o computador. Out-of-the-box um Windows nem navegar na web pode, pois sem acertar o firewall e instalar um anti-virus de terceiros o risco é muito alto. Ao ser instalado um GNU/Linux ou um BSD vem recheado de programas e você pode sair fazendo tudo que é preciso (ao menos para uma casa ou pequeno escritório) logo após instalar o sistema.

Saindo da caixa um GNU/Linux ou BSD pode ser um web-server ou banco de dados em poucos minutos. Um Windows precisa de algumas horas. Quem não é integravel? Você pode administrar e operar várias máquinas UNIX de seu próprio terminal, sem precisar de software de terceiros. Com o Windows isso é impossível. Apenas porque os UNIX e seus likes usam um padrão documentado, amplamente portável e intercompatível chamado OpenSSH (Open Secure Shell) que vem configurado e instalado junto com o sistema operacional. O Windows precisa de softwares de terceiros para atingir esse mesmo nível de funcionalidade dentro de uma rede. Novidade pra você: é preciso trabalho duro e softwares adicionais para tornar dois WindowsXP idênticos integráveis em uma rede. Algo muito natural para o Linux ou o BSD, que segundo a Microsoft são pouco integráveis.

Dick Vigarista, Mutley e sua turma continuam batendo nas mesmas teclas. Apregoando inverdades que eles mesmos irão desdizer depois numa reprodução fiel do lema publicitário nazista: Minta! Minta que alguma coisa ficará!

Agora a MS levará seu primeiro padrão de maneira oficial para o GNU/Linux, o InterVideo for Windows Media será portado para GNU/Linux. E pessoalmente eu acho isso horrível.

Assim como o Mono permite que padrões proprietários da Microsoft possam ser adotados também por outras plataformas além do Windows permitir que usuários Linux (que são uma fatia crescente no mercado) possam receber streaming pela web de formatos de vídeo proprietários da MS (ou outras empresas) não é um avanço para a comunidade de software livre. Sim um retrocesso enorme! Pois tiram o espaço e a visibilidade de padrões abertos e capazes de serem amplamente portáveis e integráveis.

Adotar padrões proprietários de audio, vídeo, web, documentos ou qualquer outra coisa nos afasta do santo graal da informática: a premissa de que qualquer usuário possa abrir qualquer tipo de dado independente do programa, sistema, ou plataforma que use. Apenas essa liberdade (de acesso à dados independente de plataforma) completa o real objetivo do software livre por permitir que que cada um escolha o programa ou produto que vai usar por seus méritos e não apenas porque ele é o que todo mundo usa.

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