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sábado, março 04, 2006

Grandes empresas e o Software Livre

Larry Ellison, CEO da Oracle, bad boy do mundo de TI e arqui-inimigo de Bill Gates (o Dick Vigarista) causou polêmica ao afirmar que "Existe uma noção muito romântica sobre códigos abertos. Pensa-se que esses desenvolvedores contribuem do nada e não cobram." em uma entrevista cujo link você pode encontrar neste artigo do Notícias Linux.

Ellison disse muitas outras coisas que geraram polêmica nessa entrevista, como: "Todo produto de código aberto que alcançou o sucesso recebeu investimentos de empresas como IBM, Intel e Oracle". Ele está meio-certo a respeito disso. Vários produtos de código aberto atingiram um bom nível de sucesso e reconhecimento sem a ajuda de grandes empresas, um bom exemplo é o Apache, que só foi "adotado" pelos desenvolvedores das grandes depois de já estar bem difundido no mercado. Então a frase de Ellison deveria começar com "A maioria dos produtos de código aberto..." e não com "Todo produto de código aberto...". À excessão disso, Ellison tem muita razão no que falou.

Os esforços da grandes empresas no campo do SL sem dúvida permitiram que os frutos do trabalho da comunidade amadurececem mais rápido. Desde que a IBM anunciou, em 2000, o investimento de US$ 1 bilhão no sistema operacional GNU/Linux muitas outras grandes empresas acompanharam a tendência. O resultado disso é quase invisível para a maioria dos usuários, mas pode ser sentido na pele. Ainda que em meu desktop eu não possua nenhuma aplicação com a marca IBM sei que o dedo dela está lá. Nenhuma outra empresa do mundo tem um time tão grande de profissionais trabalhando no Kernel Linux como a IBM. Se o kernel hoje é melhor, mais estável e mais rápido que antes é fruto do intenso trabalho de milhares de pessoas e empresas, inclusive da Big Blue.

Quem usa Eclipse para desenvolver também deve um pouco para a IBM. Desde que ela comprou a plataforma e usa-a como gestação de seu WebSphere as coisas tem melhorado muito. A Sun fez o mesmo pelo OpenOffice, que hoje é uma real alternativa ao MS Office. Existem outras centenas de bons exemplos de como grandes empresas ajudaram projetos de software livre a tornarem-se mais competitivos e mais usáveis. Mas elas não fazem isso por serem boas amigas do usuário.

Vamos deixar claro que negócios são sempre negócios. Se uma empresa, principalmente uma gigante como a IBM ou a Oracle, não estiver fazendo dólares o bastante com um produto ou segmento de mercado ela irá pular fora, óbvio. Então porque a IBM mandou US$ 1 bilhão de dólares no desenvolvimento de produtos que eu posso ter de graça? Já discutimos muito isso, mas acho um conceito importante.

A IBM, por exemplo, tem uma linha extensa de produtos, serviços e soluções. Antes do Linux aparecer com força no mercado a IBM mantinha uma linha de quase 10 sistemas operacionais distintos. Manter o desenvolvimento de um sistema operacional já é complicado (a MS que o diga...) manter 10 sistemas e fazer todos eles conversarem entre si para poder vender uma solução à um banco é um pesadelo sem fim. Linux para a IBM significa um único sistema em toda linha de produtos e ela ainda ganha o bônus de dividir os custos de desenvolvimento com o resto do mundo. É como descobrir em seu quintal uma mina de ouro!

E a IBM entendeu que mesmo eu não uso o sistema de graça. Mantendo este blog que você lê agora eu estou prestando um serviço à comunidade. É com esse serviço que eu pago as minhas cópias de Linux. Quando eu escrevo um pequeno tutorial de como instalar um driver de vídeo 3D no Linux eu estou ajudando a firmar um ecossistema favorável para o Linux. Quão mais sólido for esse ecossistema, mais fácil será para a IBM (e também para qualquer outra empresa que venda soluções Linux, como a Oracle) vender seus produtos Linux. Isso faz as grandes empresas economizarem dinheiro com desenvolvimento, pois nós estamos ajudando-as a melhorar a plataforma. Em troca recebemos o direito de usar livremente esses produtos que ajudamos a desenvolver.

Não há motivo, entretanto, para que coloquemos essas empresas em um altar. Elas estão fazendo o que acham melhor para seus balanços trimestrais. Eu e você recebemos a vantagem de um efeito colateral benéfico. Sob uma certa ótica me parece uma troca justa. Eu ajudo a IBM a reduzir seus custos e ela me ajuda a reduzir os meus, e ambos ganhamos com isso. A Sun ajuda a desenvolver o processador de textos que eu uso e deixa-me usá-lo de graça, e em troca ela tem um produto melhor para competir com o MS Office junto aos clientes. O que é a essência do software livre em funcionamento prático e compatível com um mundo capitalista. Ideologismos à parte, e eu raramente consigo fazer isso, é um bom negócio para todos, pois todo mundo está ganhando alguma coisa.

A Apple queria ver a comunidade contribuindo para o desenvolvimento do Darwin, e portanto do MacOS. Mas seu modelo de negócios tem como imperativo que o sistema não rode em qualquer PC, por isso ela impede que os usuários a ajudem não liberando muito código fundamental para que os desenvolvedores pudessem contribuir de maneira realmente produtiva. O MacOS só roda em PCs normais com patchs não oficiais e com um desempenho muito ruim, em contrapartida a comunidade consegue contribuir pouco para o desenvolvimento do MacOS. É um exemplo de como uma empresa queria implementar um modelo de desenvolvimento e usar a mão-de-obra da comunidade sem dar algo em troca. Não funciona. Ao menos não funciona como esperado.

A Microsoft tenta fazer o mesmo, com sua MSDN e com o projeto Windows Live. Neste último a MS espera implementar um framework no Vista que permitirá que usuários escrevam applets em .NET para que você adicione funcionalidades ao sistema. Me pergunto o quão afetado alguém precisa ser para trabalhar de graça para a Microsoft, melhorando seu sistema operacional, aceitá-la como co-autora de todo código que produzir e ainda ser cobrado pela compra do sistema em si e pelas ferramentas de desenvolvimento. Pense sobre isso um pouco. Eu te venderei o sistema sobre o qual você vai trabalhar, por US$ 300,00 digamos, mais as ferramentas de desenvolvimento, por mais US$ 500,00, você vai criar código pra melhorar o meu produto, sem que eu te pague um único centavo, e todo código que você criar estará sujeito à um sub-licenciamento meu se você quiser vendê-lo como produto para terceiros!!! Quem é louco o bastante para entrar numa armadilha dessas?

Comparando o modelo de desenvolvimento que foi implementado pelas grandes empresas no software livre, com os implementados pela Apple e Microsoft eu só posso chegar a uma conclusão. A comunidade do software livre está fazendo o melhor negócio possível até agora. Se as grandes que ajudam e beneficiam-se do SL mantiverem este caminho não teremos problemas e elas farão muito dinheiro. E a Microsoft e a Apple perderão o bonde da história nesse caso, pois quando decidirem que o modelo livre é mesmo o melhor e tentarem adotá-lo, sua imagem estará afetada demais para que elas possam receber o apoio da comunidade.

Que os bons projetos de SL tem recebido contribuições importantes das grandes empresas, não há dúvida, concordo com Ellison nesse ponto. Ele só esqueceu de comentar o quanto o SL tem ajudado as grandes empresas a manterem seus negócios cada vez mais lucrativos. Não há favores sendo feitos nesse mercado. Apenas a troca de produtos por mão de obra ao velho estilo, mas com uma roupagem mais moderna e com um sentimento de liberdade implícito no modelo de negociação.

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