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terça-feira, fevereiro 07, 2006

O garoto, o pai, o avô e a mula

Bons questionamentos e muito texto adicionados aos comentários após a publicação do artigo.

Um antigo conto diz que vinham pela estrada um garoto, seu pai, seu avô e uma mula. Compadecentes com o animal, que sofreria para carregar todos sob sol tão forte, os homens e o menino caminhavam à sua frente com os arreios em punho. Ao passar por um vilarejo escutaram os desocupados a rir.
"Que estúpidos, com uma mula forte como essa caminham neste sol."

Decidiram que Deus faz sempre o certo, se o quadrúpede nascera mula deveria carregar o que lhe puséssem nas lombas. Subiram todos no pobre bicho e seguiram viagem. Algum tempo depois passam por outra vila, novamente atentam-se aos palpites dos espectadores.
"É muito abuso, que sol forte, e todos sobre o burro!"

Com a culpa pesando ainda mais sobre o animal decidiram que dois deles deveriam descer, ficando apenas um sobre as costas do carregador. O pai achou por certo que o mais velho descansasse, e assim foi feito. Até que passaram por outro vilarejo.
"Que horor, um menino dessa idade caminhando enquanto um velho ainda forte como esse passeia!"

Olharam-se e decidiram por o garoto sobre a mula, foram então o pai e o avô caminhando. Aproxima-se outra vila e novos comentários.
"Onde já se viu? Em vez de ensinar o garoto desde cedo as coisas certas da vida deixam-no nesta moleza!"

Vai o garoto para a caminhada, junto com seu avô e o pai sobre a mula. Quando chega outro vilarejo.
"Mas era o que faltava! Põe um velho e um menino para guiar sua montaria, tome vergonha!"

Moral da história: Quem quer agradar a todos a si próprio não faz bem. Faz é papel de bobo e não agrada ninguém.

Como o garoto, seu pai e seu avô desta estória encontra-se o GNU/Linux, se compreendido pelas palavras de muitos textos que podemos ler pela internet afora. Quando trata-se de críticas ao sistema operacional livre o mais comum é encontrar as variações do tema: é muito difícil de usar.

E não faltam sugestões para deixá-lo mais fácil e portanto melhor candidato a tomar o lugar do Windows nos monitores dos usuários. Quando um advogado, médico, dentista ou outro profissional que usa computadores deve estar disposto a compilar kernel para poder abandonar o Windows e correr para os braços de algo que melhore a maneira como aquele usa computadores e produz todos os dias?

Parece que firmou-se uma espécie de jihad ou cruzada para colocar o Linux no desktop do maior número possível de usuários até que este supere e finalmente acabe com o Windows. E que para atingir isso deve-se fazer de tudo, inclusive desfigurar o GNU/Linux cada vez mais para que ele se pareça cada vez mais com o Windows e as pessoas possam aceitá-lo e engulí-lo. Mesmo que nesse caminho o GNU/Linux deixe de ser o GNU/Linux e perca todas aquelas características que fizeram dele uma alternativa realmente aceitável.

Não estou falando de compilar um kernel, acordem! Minha irmã usa Linux há 1 ano e nunca compilou um kernel, e nem eu o fiz para ela. Isso não é preciso há algum tempo! Sempre achei que tocar piano deve ser uma das coisas mais difíceis do mundo, mas nunca me passou a idéia de pedir para que alguém modificasse um piano para que ele ficasse mais fácil, só para que eu aprendesse a tocá-lo. E seria absurdo se eu pedisse isso a alguém, pois tanto aquilo deixaria de ser um piano quanto eu não aprenderia a tocar um piano de fato.

Mas é isso que vejo muita gente pedir por aí. Pedem para que o GNU/Linux fique mais parecido com o Windows para eles possam deixar de usar o Windows. Com qual finalidade?

Dizem que o Diabo leva mais vantagem por ser velho do que por ser diabo. Meus amigos, o GNU/Linux só é o GNU/Linux porque ele não é o Windows. Se ele fosse como o Windows nunca seria tanto quanto é hoje. Quem pensaria em trocar o Windows por algo que é igual ao Windows??? Vamos lá, faz uma força, baixa 3 CDs da internet, queime-os, formate seus HDs, instale tudo de novo, configure tudo de novo e então você terá algo que é bem parecido com o que você já tinha antes... Quem está perdido nesta história toda?

Não são os desenvolvedores GNU/Linux que não entenderam o que o usuário quer. É o usuário que não entendeu o que o Linux é. O Linux não é um concorrente do Windows, são sistemas de classes diferentes. O Linux não é um substituto do Windows, é um substituto do UNIX. O Linux não foi feito para que você abandone seu Windows, ele foi feito para funcionar de uma certa maneira e faz isso muito bem, obrigado.

A todos aqueles que querem que o Linux aproxime-se um pouco mais do Windows para poderem trocar um pelo outro, faço um pedido, continuem usando Windows. Aqueles que querem um sistema com características únicas, muito bom, muito estável, muito portável, muito flexível, totalmente configurável, e que seja único; bem vindos abordo. Basta um pouco de disposição para aprender a usar algo novo (lembra quando você teve que deixar as fraldas e usar o sanitário, acho que não eu também não lembro) pois gente querendo ajudar não falta.

O Linux é como a democracia, precisa ser requerida, não imposta. Você não invade um país e empurra a democracia guela abaixo, bem os EUA acha que sim e veja lá como estão as coisas. Com sistemas operacionais é a mesma coisa. Não há porque empurrar o Linux pela garganta de milhares de usuários que não querem isso, deixem-nos como estão, se estão felizes. Quando lhes aprouver a vontade de mudar eles mudarão e aceitarão todas as vantagens e custos que isso traga.

Afinal aprender coisas novas nunca matou ninguém. Quem aprendeu a ir ao banheiro sozinho, a andar, a falar, a escrever, a dirigir, pode aprender a usar outro sistema operacional se quiser. Se não quiser, pode ficar com o Windows mesmo. A Microsoft e a comunidade de software livre agradecem.

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Comments:
Só uma coisa a dizer: artigo perfeito. :)
 
Muito bom! :)
 
Eu concordaria com o texto acima SE o sistema operacional desempenhasse todas as atividades de um computador. Mas ele apenas é o conjunto básico de programas em cima dos quais rodam os outros programas de computador, responsáveis por oferecerem a interface com o usuário, as aplicacões finais (editor de textos, navegador de Internet, CAD, exibidor de filmes, etc) e as diversas ferramentas de programacão, configuracão e administracão.

As várias distribuicões de GNU/Linux mostram muito bem que é possível sim atender a um vasto público, cada qual atendendo um nicho diferente. E elas se diferenciam na forma como estabelecem a interface de iteracão com o usuário, o comportamento perante os periféricos, a política de seguranca e a selecão de programas -- umas focadas para programas e ferramentas a usuário de escritório, outras a usuários domésticos, outra a administradores.

Não há como estabelecer uma analogia entre o GNU/Linux e a mulinha da história, pois caso fosse, cada distribuicão seria o correspondente a uma réplica (irmão gêmeo ou clone) da mulinha (o sistema operacional), com uma família diferente (as pecularidades da distro) a passar por cada cidade (público-alvo). Já na historinha, a família é a mesma em todas as cidades. Seria como se existisse uma única distribuicão a representar o GNU/Linux.

Quanto a 'tornar o GNU/Linux parecido com o Windows', não fica claro em que sentido. Uma vez que o MS Windows é um sistema operacional com uma interface gráfica e alguns outros recursos integrados (no sentido de serem ofertados juntos como uma única 'peça' de software). Já no GNU/Linux a parte gráfica é um conjunto de programas à parte. Isso torna difícil a comparação, pois a modularidade adotada nos ambientes tipo UNIX faz com que ele possa aparentemente assumir qualquer comportamente, inclusive adotar uma interface com o usuário similar à oferececida pelo 'ambiente Windows' e seus principais programas -- ou não! Quem quiser um ambiente à moda Mac, em princípio também pode ter algo similar.

Daí, ao menos para mim, soa estranha a crítica acima. Pois não está caracterizado o que significa 'querer fazer o GNU/Linux ficar parecido com Windows'. Para consolo de alguns, ou de muitos como alega o autor do texto acima, o GNU/Linux permite, por sua modularidade, que se agregue a si todo um conjunto de programas que o facam atender várias necessidades ou desejos de interface e operações -- não todas ao mesmo tempo, obviamente --, até mesmo a 'se comportar como um Windows ou um Mac' para horror de algumas pessoas.

Esse é um preço a pagar pela tão alardeada liberdade de escolha: ofertar opções e selecionar a mais adequada, em vez de receber tudo pronto como se fosse a única forma possível. Deixem as pessoas escolherem o que querem.
 
A todos muito obrigado pelos posts, elogios e críticas, fico sempre muito contente quando os leitores participam.

wilfredo: A sua visão de que o sistema operacional é apenas um conjunto básico de programas sobre os quais todo o resto roda deixa de lado um ponto crucial. Os sistemas operacionais modernos buscam edificar um ambiente onde o programador possa não se importar com o hardware e preocupar-se apenas em escrever um bom programa. Se o Windows rodasse em PowerPC a Autodesk não precisaria mudar uma única linha de código para que seu AutoCAD rodasse em Macs (deixemos as otimizações de plataforma de lado por enquanto). Se um sistema tem uma API bem construída o resultado final (programas executando tarefas para um humano ou para outros programas) é normalmente muito bom. Se um sistema tem uma API pobre ou defeituosa por mais bem escrito que um programa seja certamente haverá problemas. Se fosse possível rodar todos os programas modernos no Windows 3.11 você estaria usando Windows 3.11? Responda para si mesmo esta pergunta e você entenderá que o SO não é "apenas um conjunto de programas" mas sim o grande responsável pela qualidade e quantidade de coisas que você pode fazer em seu computador. O gerenciamento de memória do Windows 3.11 era uma piada de mau gosto, de tal forma que os programas mais bem escritos da época geravam falhas de proteção geral depois de muito tempo de uso. Assim programas bem escritos rodando em uma plataforma ruim geram resultados ruins, o oposto também é verdade. Então apenas programas bem escritos em uma plataforma muito boa podem gerar resultados adequados. Pergunte a qualquer designer porque ele não troca MacOS + Photoshop por Windows + Photoshop e você constatará na prática essa idéia.

A estória da mulinha é para mostrar o seguinte: Se o Linux tentar agradar a todos falhará com todos. O Linux agrada hoje o mercado corporativo e os usuários técnicos por ser como é. Mude o Linux para agradar o usuário eventual e ele deixará de agradar ao mercado corporativo. Por quê? Porque isso é o que acontece com o Windows. A Microsoft tenta a anos fazer com que a mesma plataforma funcione bem em todos os campos e isso nunca funcionou a contento. O mundo GNU/Linux deve aprender a lição que a IBM deixou para a posteriadade com o OS/2 Warp: nunca brigue com o mercado! Nunca tente impor sua vontade ao mercado, pois ele não usará seu produto.

Quando digo que fazer o Linux ficar parecido com o Windows não refiro-me à aparência, refiro-me a como o sistema funciona. Digitar a senha do root para ajustar o relógio no Linux é um saco, eu acho isso, mas é parte do desenho do sistema. Uma distribuição em particular pode mudar isso, para que o usuário normal de Windows não ache isso um saco também, até aí normal; é algo que tem pouca importância. Se houver outra distro que funciona do jeito normal os administradores de servidores usarão esta em lugar daquela, ok. Mas suponha uma distro que acabe com o esquema de privilégios de root para instalar programas, pq usuários de Windows só sabem apertar Next Next OK. E usuários assim não vão querer usar Linux pq é complicado demais virar root e usar rpm, ou seja lá o que for. Então navegando na Web ele clica em um pop-up e um malware instala-se em seu Linux e rouba sua senha de banco. Note que como a maioria da comunidade de desenvolvedores de programas Linux ainda é tecnica, ninguém se importou muito em escrever um anti-spyware que seja livre e possa ser instalado com o CD da distro, pois eles seguem as práticas básicas de segurança que o Linux ajuda a implementar. O usuário vai ter sua senha de banco subtraída e seu dinheiro roubado e pensa: Me disseram que Linux era seguro, e é mentira. Pq para ele Linux é a distro que ele usa, e não um universo de distros diferentes que formam uma categoria, pois pra ele o Linux teve aquela cara. E alguém vai dizer que outra distro é segura de verdade, mas essa é aquela que é difícil de usar. E para ele o Linux vai ser um embuste, e ele vai voltar para o Windows (pq este afinal roda aqueles jogos legais da EA Sports) e vai falar mal do tal do Linux para todo mundo. E o Linux vai fracassar no Desktop mais galopantemente do que se não houvesse aquela distro fácil de usar.

É só um ponto de vista, e acho saudável que pessoas venham até aqui para discordar dele, agradeço a você por isso. Então olhando sob esta ótica a idéia de deixar o Linux mais próximo do Windows me parece péssima, pois tente da tirar do Linux todas as qualidades que as pessoas não tem no Windows e podem apreciar em uma alternativa (que hoje pode ser o Linux). As pessoas estão insatisfeitas com o Windows, fazer a melhor alternativa disponível convergir para algo que as pessoas estão querendo abandonar me parece mesmo uma idéia péssima. Se em lugar disso nos concentrarmos em ajudar a melhorar o nível técnico do usuário para que ele possa entender que o Linux não é difícil e sim apenas diferente acredito que podemos obter melhores resultados no final.

E não falo de compilar programas, kernel, ou de configurar uma placa de vídeo ou rede editando arquivos de texto no VI. Falo de ensinar aos usuários como carregar dois X servers ao mesmo tempo com interfaces, aplicações ou mesmo servidores diferentes; por exemplo. É uma coisa que não existe no mundo Windows, que 90% do pessoal pra quem eu descrevo o processo fica boquiaberto, que muitos gostariam e alguns até precisariam fazer, mas que eles não sabem que é possível no Linux. Se os usuários de Windows descobrissem as coisas que um Linux podem fazer e que inexistem em um Windows acredito que 20% migraria na hora e não se importaria de aprender a usar outro sistema operacional.

Dizer que precisamos deixar o Linux "mais fácil" para que usuários que não conseguem escolher entre FAT32 e NTFS na hora de instalar o Windows possam usar o Linux é tão absurdo quando dizer que precisamos facilitar a física para que analfabetos possam projetar pontes. E você ficaria espantado sobre a quantidade de usuários de Windows me liga para perguntar qual sistema de arquivos escolher na hora de reinstalar o Windows. Pergunto a alguém, qual sistema de arquivos você usa aí e ele responde: "Não sei... mas o que é isso?". Não haverá sistema operacional fácil para essa pessoa usar, porque ela não sabe usar sistema algum, nem o Windows. Ela sabe apenas clicar em botões e seguir orientações que apareçam na tela. Se ela acha o Windows ruim por algum motivo, achará qualquer sistema ruim por algum motivo, não importa quão fácil deixemos o Linux.

Isso não se resolve deixando um sistema operacional mais fácil ou mais técnico. Não é um problema com o sistema operacional. É um problema educacional e cultural. Educacional porque ela não sabe usar computadores e cultural porque ela acha que não precisa saber exatamente porque um sistema "fácil de usar" disse a ela que ela não precisava aprender. Então vira um círculo vicioso:
-Usuários de Windows estão insatisfeitos com o Windows e ouvem falar bem do Linux;
-Tentam o Linux, mas acham difícil de usar porque o Windows disse que não precisava saber nada daquilo para usar um PC;
-Desenvolvedores Linux deixam o sistema mais parecido com o Windows, mais "fácil de usar" para conquistar esses usuários;
-Usuários testam o Linux fácil de usar, que também não exige que se saiba nada daquilo...;
-Usuários enfrentam os mesmos problemas de insegurança e travamentos no Linux fácil de usar, porque eles não sabem nada de segurança e não entendem nada que dê errado;
-Usuários de Linux fácil estão insatisfeitos com o Linux fácil porque ele se comporta da mesma forma que o Windows e continuam ouvindo falar bem do Linux difícil;
-Tentam de novo o Linux difícil, mas acham difícil ainda porque na verdade não aprenderam nada e decidem voltar para o Windows porque afinal o Windows tem mais jogos e mais gente usa ainda;
-Ficam com uma impressão ruim do Linux porque ou ele é tão ruim quanto o Windows ou é muito difícil...

E em algum tempo o mito de que Linux não presta vai se espalhar da mesma forma que o mito de Linux é difícil está espalhado hoje pela cabeça das pessoas. Quem usa Windows e já ouviu falar de Linux dispara na lata: mas é difícil de usar, mesmo sem nunca ter usado, porque as pessoas são assim, é cultural. O usuário médio não precisa de um sistema fácil de usar, automóveis não são fáceis de usar e todo mundo tem um. Usuário precisa é aprender a usar computador, como aprendeu a usar carros um dia, e nada mais que isso. Se usuários de Windows soubessem usar compuatador de verdade boa parte da má fama do Windows desapareceria no ar, pois as pessoas pegariam menos vírus, perderiam menos dados e produziram mais e melhor. Com o Linux temos a chance de implementar uma reforma cultural no perfil do usuário de computador, ou de deixá-lo parecido com o sistema operacional que fez esse estrago todo. Aos que preferem a segunda hipótese eu peço, pelo bem da humanidade, que parem.
 
Concordo com tudo que disseste, falcon, e achei o post brilhante.
São pensamentos e desejos que compartilho contigo.

Porém, há uma incoerência no raciocínio: "usuário" dificilmente vai deixar de ser o que a própria palavra diz, usuário.
E quem usa, não quer saber como funciona.

Usuários de carros não querem saber como ele funciona, eles usam e não entendem nada de mecânica. Tanto que há a mesma exploração das lojas de informática e manutenção técnica que nas oficinas mecânicas, com relação à ignorância do usuário.
Usuários não tomam atitudes de segurança, usam cinto-de-segurança só para não serem multados. Eles não se familiarizaram com os métodos que um carro possui para dispor de conforto, segurança, desempenho, etc. Eles não sabem como funciona o sistema elétrico do carro que torna sua comunicação com o mundo exterior possível. Eles não sabem que, em carros modernos, há controle pneumático das suspensões quando o carro entra em uma curva, e que isso torna o carro mais estável. Não sabem como um pneu é aderente à pista em dias de chuva.

Até aí tudo bem, esse é o papel do usuário: usar.

O problema é que o usuário não está nem aí para aprender nada disso, nem entender por cima, o geral.
Imagine se toda ferramenta que usamos nós precisássemos aprender as maneiras como elas funcionam, para poder usufruir dela de maneira consciente e eficiente.

O usuário não quer isso.

Pouco importa se o carro tem um sistema de refrigeração do motor que usa água, e, por isso, precisamos repor a água do carro. Eles apenas repõem.

E é assim com o Windows: pouco importa porque precisa-se fazer atualização no Windows Update, apenas faz-se. Não importa como, e sim porque, segundo eles dizem, vai tornar o sistema mais seguro.

E é dessa maneira que eu penso que o Linux não está aberto, ainda, para o público usuário.

É visível a diferença entre o perfil de um usuário de Windows e de um usufruidor de Linux. O primeiro mantém uma relação de puro utilitarismo com o sistema, o segundo, começa a tentar entender. Mesmo porque o Windows, quando você tenta entender, não lhe permite.

É realmente, e concordo com você plenamente, um problema cultural e educacional.

O Windows criou uma massa de consumidores cegos, e o Linux surgiu como alternativa para as ovelhas desgarradas desse rebanho.

E, por enquanto, o rebanho não quer ser liberto.

Isso até remete às teorias marxistas, que dizem que a mudança (ele se refere à revolução) só pode partir do próprio povo (a classe proletariada), quando este tomar consciência de si (a consciência de classe).

Todos os usuários, no final das contas e de certa maneira, são vítimas das tecnologias. A sociedade apenas fagocita novas utilidades, nunca toma a atitude de sair do seu estado inerte, pensar, criar usando sua imensa capacidade criativa e veicular. Todas as novas tecnologias são impostas pelos produtores, os detentores dos meios de produção.
Pode-se dizer que não para todos os blogeiros por aí, para os desenvolvedores, etc. Mas estes representam quase zero percentual da sociedade.
Sim, são feitas imposições para a massa de usuários leigos. Aquela mesma massa que lê um email dizendo que seu CPF foi cancelado, e logo clica no link com medo de que seja verdade, e aí faz download de um vírus, simplesmente porque ela não sabe ver o link correspondente ao texto que leu.

Medo, desinformação e vários outros mecanismos de manipulação (como a nova onda do "o que é velho é ruim, atualize-se já!") são usados com frequência nessa guerra por mercados.

E isso é tão sutil e eficiente que se você for explicar tudo isso para quem é vítima, ela ainda vai arrumar argumentos para te contrariar e vai te achar um herege que só diz absurdos!

Vão argumentar que tudo isso traz conforto e benefícios para a sociedade!

Será que eu sou o louco e será realmente necessária a produção de 25 transístors por segundo para cada habitante no mundo, no Vale do Silício, que é mais do que a quantidade de grãos de arroz produzidos por pessoa, neste planeta onde 1 bilhão, ou seja, 17% das pessoas passam fome?

E os "usuários", continuam consumindo, e usando, sem saber porquês e sem se importar com isso.

Desculpa a delonga no comentário, e ter fugido do assunto, mas penso que tudo está interligado, e não há como fugir do todo, uma vez que ele é onipresente nas nossas vidas.
 
Em minha opinião, tanto o texto do Falcon, quanto os comentários dos participantes são válidos. Pois concordo que LINUX é bom, mas concordo também que Windows é Fácil. Mas o que eu quero?? algo fácil, ou algo bom? Não dá para ter algo bom e fácil??? Não, não dá...
Hoje mesmo um amigo me parou e perguntou: E aí! ainda tá com o Linux na sua casa?
Mas porquê essa pergunta? É tão estranho assim usar linux, que só usamos uma semana e desistimos, ou mesmo usamos rodamos um Live CD para testar e falaremos, não, isso não é pra mim.
Porquê não? A resposta é muito fácil. A monopolização propiciada pela Microsoft.

Imagine o contrário. Imagine um Linux que nasceu na versão 3.11 passou por várias nomeclaturas e hoje está na versão Linux XP, se aproximando do (não) "in-Vista", com bugs e falhas de segurança como sempre. Agora imagine que nesse mundo maravilhos, onde rodamos EA SPORTS facilmente com um next next next finish, surge uma galerinha falando que usa um tal de "windows". Nossa, mas deve ser difícil isso, windows, nunca ouvi falar..
Pois é pessoal, seria a mesma coisa se fosse o contrário, é o vício, o mesmo da operadora de telemarketing quando fala "vou estar verificando". É fácil falar assim, parece que está falando bonito, mas é feio e errado. Mesma coisa é o Windows, é bonito, fácil, mas é fraco.
Pequena opinião...
 
Salve Kiyoshi.

Concordo que a pessoa para ter um carro não deve precisar saber de mecânica. Mas ela deve saber trocar as marchas, correto? Usar a embreagem, cambiar, acelerar e frear adequadamente são requisitos importantes para usar um carro. Saber balizar para estacionar é bem desejável. Então aparece alguém dizendo que a bicicleta é bem melhor que carro, porque não tem nada disso, e que para popularizar os carros na China (onde 70% do povo anda de bicicleta) a solução é deixar o carro mais fácil de usar. Tá certo isso? Em minha visão, não. Pois é, acho que uns 80% dos usuários de Windows que já ouviram falar de Linux e dizem que ele é difícil sequer viram um Linux operar na vida, falam o que escutaram por aí, ou leram em algum site na internet. Hoje é possível usar Linux sem precisar compilar kernel, sem precisar saber programação, sem precisar abrir um arquivo de texto sequer, mas todo mundo continua repetindo o mantra: Linux é difícil.

Provo: minha irmã não sabe o que é Bash, nunca viu o VI ou o EMACS na vida, não tem a menor idéia do que é kernel. Ela usa Linux há um ano e meio, instala programas sozinha no PC que é dela e eu dou menos manutenção nele agora do que quando ela usava Windows. Quando sugeri que ela testasse o Linux ela perguntou: "Mas não é muito difícil?". Hoje se eu perguntar pra ela qual é mais difícil, Windows ou Linux... peraí vou perguntar... ela me respondeu: "Considerando apenas o caráter Facilidade de Uso entre continuar com o Linux e voltar para o Windows eu prefiro o Linux". Viu? Não precisei ensinar como nada funciona, não exigi dela que ela entendesse o que é um shell script, apenas a ensinei a usar o Linux como um dia no passado já havia ensinado a usar Windows. Ela sabe hoje o que é uma partição, ela sabe o que é montagem de unidade, ela sabe o que é o X server, porque usando o Linux no dia a dia ela encontrou esses termos e veio me perguntar o que era. A distro que ela usa: Mandriva, não é nem Ubuntu

Quem fala que Linux é difícil está mal informado. Linux hoje já é tão fácil de usar quanto Windows, mas é diferente. As pessoas temem coisas diferentes, coisas que elas não conhecem. É mais fácil continuar com o que se tem, mesmo que seja pra ficar reclamando, do que experimentar algo novo (Experimenta! Experimenta! ahhhhhhhhhhhhh). Peguei uma placa de rede com um chipset estranho da VIA, instalei em uma máquina com dual boot WinXP e Mandriva... O Windows não reconheceu e foi necessário buscar os drivers em um disco, instalar na mão, dar boot de novo, configurar tudo, inserir o cd do WindowsXP de novo, dar boot de novo pra funcionar. O Linux reconheceu na instalação e o primeiro boot já trouxe funcionando... qual é mais difícil de usar? Resposta: nenhum, esse tipo de exemplo não prova nada. Então quem diz que Linux é difícil pq tentou usar e sua placa de captura de vídeo não funcionou perdeu o ponto, pois não tem nada a ver com o assunto. Mas sai por aí dizendo que o Linux é difícil de usar, pq o hardware dele que funciona bem no Windows não funcionou no Linux.

Então meu ponto é: dá pra usar Linux sem precisar ser Geek ou hacker, sim, basta vontade de usar Linux. Foi isso que aconteceu comigo e naquela época as coisas eram um pouquinho piores que hoje. Se eu consegui qualquer um consegue, basta querer. Por isso fico chateado quando vejo pessoas publicando artigos na web dizendo que o Linux precisa ficar mais fácil de usar... pra ficar mais fácil de usar o Ubuntu só se tirarmos a figura do usuário (que normalmente é quem complica tudo) e deixarmos o bichinho funcionar sozinho... mas aí perde o sentido ;-)

O que não dá pra pedir é que o Linux se transforme em um sistema operacional que contente quem usa Windows mas que não sabe dizer ao certo quanta memória RAM tem no computador. Perguntei uma vez isso e o cara mandou: "acho que é 40 giga.. é isso?". Porque esse cara é um motorista que não sabe quanta gasolina tem no tanque, mas que reclama que trocar de marcha é muito difícil, por isso é melhor usar bicicleta. E quer saber, melhor que fique na bicicleta mesmo, pois se nem ler o ponteiro da gasolina ele se preocupou em aprender ele não está pronto pra ter um carro. Saindo da metáfora, se o usuário não sabe quanta memória tem seu computador é claro que ele vai achar o Linux difícil, mas vai achar o Windows difícil também... e é por isso que quando algo der errado ele vai ligar pra um amigo que é entendido. E hoje qualquer pessoa que saiba configurar um firewall e um anti-virus no Windows é entendido, tamanha a falta de conhecimento básico que a massa usuária apresenta.

De novo, não é questão de saber compilar um kernel, é questão de saber um mínimo necessário para usar um computador. Qualquer usuário que saiba o básico do básico, se levada do Windows para o Linux com o treinamento adequado para entender as diferenças entre eles, conseguirá usar o Linux sem deméritos. Prova viva é minha irmã.

Monthiel, é bom ver você por aqui sempre. Um pouco do que escrevi acima direciono também para seu comentário. Todos usamos em nossos computadores teclados QWERTY (nome dado por causa das 6 primeiras letras da primeira fileira). Todos estamos acostumados com isso e a única estranhesa é mudar de um teclado USA pra um ABNT-2 e se perder com o Ç. Tem um outro mapa de teclas chamado Dvorak que é considerado melhor que o QWERTY porque ele coloca as letras mais usadas do idioma inglês na fileira do meio, portanto mais ao alcançe dos dedos. Ortopedistas são categóricos em afirmar que o QWERTY provoca tendinite, enquanto o Dvorak a evita. Usando o teclado QWERTY prejudicamos nossos dedos, o Dvorak ajudaria... o que estamos fazendo então? Um médico adaptou o mapa Dvorak para o idioma português, e o teclado ficou um pouco diferente, porque eu não uso um teclado desses? Vamos ver:
1- Toda vez que eu saísse do meu computador ou teria que levar o teclado junto ou me perderia todo;
2- O tempo para adaptar-se a um mapa novo de teclado é de, em média, 4 semanas. São quatro semanas em que eu digitaria como um aprendiz, o que é um saco
3- Teclados Dvorak para cada idioma exigiriam da indústria um esforço de custos e logística que elas não querem aceitar, assim minhas chances de achar um Dvorak de fábrica são mínimas, por isso eu teria que desmontar todo o teclado, trocar os botões de lugar e instalar um mapa de teclados novo em meu SO... e nem a pau vou desmontar meu notebook para mudar umas teclinhas de lugar, que venha a tendinite!

O teclado QWERTY é o Windows. O Dvorak é o Linux. Qual é mais fácil de usar? Aquele com o qual você está acostumado é mais fácil de usar, mas qualquer pessoa pode adaptar-se a algo novo. Pensem, você aprendeu a usar o banheiro, a andar, a falar, a ler, a escrever, a correr, a correr jogando bola, a andar de bicicleta, a dirigir... etc. Tudo isso exigiu um esforço mental de seu cérebro muito maior do que o de aprender a usar outro sistema operacional, e vc conseguiu fazer tudo isso. É difícl comer com aqueles pauzinhos de bambu que os orientais usam? Pode ser pra você, mas para eles é fácil pq eles aprenderam a usar aquilo e o fazem por muito tempo.

É difícil usar Linux? Pode ser pra um monte de gente, mas para mim não é. Mas se eu consegui o que impede outros de conseguirem? Minha extrema capacidade mental, meu brilhantismo? Afirmo, repito, reafirmo, registro em cartório. Com um curso de 8 semanas qualquer pessoa pode aprender a usar Linux, pode gostar de usar Linux, pode achar Linux tão ou mais fácil que Windows, basta apenas que essa pessoa queira fazer isso. E quem disser que Linux é difícil demais para o usuário doméstico vai estar soando, para mim, como a propaganda militar brasileira que bradava: "Comunistas canibalizam criancinhas". Linux é difícil lembra a propaganda nazista: minta, minta sempre, pois com isso alguma coisa ficará. Tanto os marketeiros microsoftinianos espalharam essa frase que ela prendeu-se nas mentes dos usuários. A solução não é mudar o sistema, é mudar a mentalidade do usuário, o que é bem mais difícil de fazer.
 
Meu irmão não sabe praticamente nada de windows, linux ou qualquer coisa desse tipo, pra falar a verdade há muito pouco tempo ele aprender realmente a utilizar o google para buscar trabalhos da escola.
Porém, depois de anos utilizando windows, após uma formatação "forçada" pelo "maravilhoso windows" que simplesmente resolveu virar trial e expirou, instalei apenas o linux (como fui pego de surpresa e precisava do pc instalei o Kalango que é uma distro baseada no kurumin e roda muito bem em hd assim como em cd), e para minha surpresa meu irmão adorou, se deu muito bem como linux e teve quase 0% de dúvida (aprendeu até a utilizar o amsn sozinho, sem eu nem mostrar onde estava o atalho).
E olha que o meu irmão não teve interesse e nem vontade pra aprender o "facílimo" windows, imaginei que ele não fosse aprender de jeito nenhum o "dificílimo" linux, porém me surpreendi, ele se adaptou ao KDE de forma brilhante, pediu informações técnicas do linux, procurava algumas coisas na net sozinho e resolvia problemas através do google.
A única reclamação dele é que não roda os joguinhos que ele adora (diablo II, e mais alguns que nem sei).
Agora meu computador está em dual boot, quando ele vai jogar, é windows, quando vai usar internet ele reinicia e entra no linux, e tudo sem eu nem precisar ficar ensinando nada.
LINUX É DIFICIL OU VOCÊ NUNCA UTILIZOU ELE ?
Para as pessoas que acham o linux dificil eu "saco" os meus Live Cds (tenho de várias distribuições) e mostro pra pessoa que pode ser fácil. E que não precisa nem formatar o computador para aprender, basta dar boot pelo cd e testar as várias distros (tem até BSD agora em live cd, quer facilidade maior que esta ?).
Quero ver alguem fazer o Vista rodar em cd para facilitar a migração dos usuários !
 
Falcon, mais uma vez concordo com você quando "pensa" e escreve todas essas analogias. Foi justamente isso que quiz dizer. É uma questão de costume, não que o teclado QWERTY seja mais fácil de usar, é que aprendemos com eles. E trocar de teclado agora seria um saco enorme viu..rs.rs..
Eu pessoalmente uso Linux a 8 meses, acredito que seja isso, e concordo fielmente com você quando fala que LINUX não é difícil, mas você tem que concordar comigo também que essa é a primeria frase que um win-user pergunta quando você fala que usa linux, concorda.
Porquê? porque as pessoas realmente tem essa imagem de "hard" em linux, e de easy-friendly no Windows. E isso realmente tem que mudar, pois é um saco as pessoas ficarem perguntando isso o tempo todo. Dá a impressão que eu sou um ET, um doido anti-social que vive fora dos padrões, única e simplesmente por usar Linux.. fico doido com isso...
Essa semana meu professor de Arquitetura e Organização de computadores fez uma analogia bastante interessante sobre Windows e Linux, resolvi dar uma implementada e escrevi algo em meu blog.. espero você la... blz.. abração..
 
Vocês falam de mais...
hehehehe
 
Muito show o artigo e os comentários
 
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