terça-feira, junho 14, 2005
Propaganda
Parece que virou febre. Pipocaram anuncios da campanha Get the facts da Microsoft em sites e revistas especializadas em GNU/Linux no mundo todo. Aqui no Brasil não foi diferente. A revista impressa que talvez seja a mais renomada no Brasil sobre o assunto, filial da alemã Linux Magazine, mostrou ao mundo banners publicitários da Microsoft em seu site e, aparentemente, em sua versão de bancas trouxe propagandas de página cheia com os anúncios de fundo laranja já tão conhecidos da comunidade de TI no mundo.
É uma escolha administrativa da editora permitir isso, e portanto não entrarei no mérito. Mas o editor da revista brasileira decidiu enviar ao br-linux um comentário dos fatos, e é isso que me motivou a falar sobre esse assunto.
Em sua nota oficial o editor da Linux Magazine Brasil começa afirmando que não pode discriminar um anunciante que está disposto a pagar o preço de mercado de publicidade quando há espaço publicitário vago. Me perguntei então porque a BMW não anuncia na Revista da Audi? Isso não é verdade! Qualquer veículo de mídia pode escolher seus clientes sem que isso seja caracterizado como discriminação. Agências de publicidade nunca possuem contas de mais de um cliente na mesma linha de produto, normalmente a pedido de seus próprios clientes, mas isso é o que o mercado chama de ética.
Cansei de ver em todas as publicações nacionais propagandas de diversas empresas concorrentes, uma após a outra. Em qualquer Info que você abra, passará por propagandas da Dell, da IBM, da HP, todas vendendo o mesmo produto, página após página. Isso é enojante, já que você pode esperar que as tedencias possam acabar, sem querer, apontando para o melhor anunciante.
Só que a Linux Magazine não é uma revista de informática, ela é uma publicação setorial, voltada para um produto em específico, no caso o GNU/Linux. Em mídia especializada, principalmente na mídia setorial, a publicidade é sempre vista com muito cuidado, e às vezes até com suspeita. E é exatamente isso que está acontecendo agora com a comunidade de Software Livre ao ver anuncios de Microsoft e do Windows em sites especializados em GNU/Linux.
Falar em suas reportagens uma coisa e em suas propagandas outra não é, e nem pode ser, a melhor maneira de levar uma publicação às bancas e fazer lucro, lembrem-se que é por causa desse tipo de comportamento que nossa sociedade tem perdido a crença na classe política, vejam onde esse tipo de comportamento nos levou. A imprensa, quando sujeita as necessidades monetárias e pressões por lucro sempre perde sua credibilidade.
A comunidade de software livre não pode fazer como quis sugerir o editor da Linux Magazine Brasil, sorrir e achar graça da Microsoft estar "jogando dinheiro fora" anunciando em mídia que é voltada para profissionais GNU/Linux por dois motivos principais:
1- Quando envolve dinheiro a MS é, talvez, a melhor do mundo, é inocência demais achar que agora, quando enfrentam seu pior inimigo, estejam errando a mão nas estratégias e trocando os pés pelas mãos. Quando o assunto é bater a concorrência a MS sempre se deu muito bem e não acredito que sua estratégia não vá causar danos ao mercado de software livre a médio e longo prazo, por mais inofensiva ou ineficaz que pareça hoje.
2- Uma mentira repetida muitas vezes pode virar verdade. Quantas vezes já vimos isso acontecer no mundo da informática? Talvez daqui a 5 anos seja consenso no mercado não especializado (ou leigo) que o TCO do Windows é menor que o do GNU/Linux sempre! Que faremos a respeito então? A MS já ganhou mercados e quebrou concorrentes várias vezes com mentiras publicitárias. Acreditem, não ligar para elas ou mesmo ficar ecoando-as aos ventos acompanhadas de chacotas, como fez a Linux Magazine não irá mudar as coisas.
Quando briga-se com um adversário forte, deve-se respeitá-lo ainda mais. As empresas e pessoas que já adotaram o GNU/Linux talvez saibam que as campanhas publicitárias da MS não trazem a verdade. Mas e as que ainda não adotaram, o que pensam sobre o assunto? A campanha Get the Facts pode não estar impedindo o GNU/Linux que aumentar sua participação no mercado, mas pode ter diminuido o ritmo de crescimento, pode a longo prazo impedir migrações importantes para a plataforma. Dizer que os usuários de GNU/Linux sabem que Get the Facts não é verdade é dar com a cabeça na parede, pois a fatia de mercado do GNU/Linux só vai crescer se o produto conquistar novos clientes, que são aqueles que não sabem que podem lucrar mais com GNU/Linux, por isso ainda não migraram.
E isso leva à outra coisa importante que ainda não vi ninguém comentar nos foruns e sites de notícia da internet. É sabido que o forte das plataformas livres é o suporte das comunidades de desenvolvedores. Essas comunidades são unidas pelas publicações que agora disseminam propaganda pró Microsoft e Windows. A perda de credibilidade nessas publicações já está acontecendo e várias comunidades já se dividem em opiniões favoráveis e contrárias à essas publicações. E talvez seja só isso que a MS queira, que as comunidades percam tempo discutindo sobre isso e que as publicações setoriais percam sua credibilidade perante o público geral. Assim a maior fonte de suporte ao software livre estaria comprometida com um cisma difícil de resolver.
Pensem um pouco sobre isso, se esse não é o real interesse por trás dessa coisa toda. A MS não estaria jogando dinheiro fora se perdêssemos a confiança nas fontes de informação sobre software livre. Novos clientes ficarão pensativos ao ver mídias que defendem fervorosamente o GNU/Linux publicando inocentes banners sobre como o Windows é mais barato de implementar e operar que seu concorrente. Ao chegar no próximo evento de software livre, pergunte-se como você reagiria se houvessem banners da Microsoft pendurados nas paredes, tente imaginar o que você deveria esperar de um evento assim e você entenderá como as empresas que consideram uma migração para GNU/Linux nesse momento vão encarar todo esse panorama. E vislumbrem, finalmente, como a MS é inteligente nesse tipo de tática.
É uma escolha administrativa da editora permitir isso, e portanto não entrarei no mérito. Mas o editor da revista brasileira decidiu enviar ao br-linux um comentário dos fatos, e é isso que me motivou a falar sobre esse assunto.
Em sua nota oficial o editor da Linux Magazine Brasil começa afirmando que não pode discriminar um anunciante que está disposto a pagar o preço de mercado de publicidade quando há espaço publicitário vago. Me perguntei então porque a BMW não anuncia na Revista da Audi? Isso não é verdade! Qualquer veículo de mídia pode escolher seus clientes sem que isso seja caracterizado como discriminação. Agências de publicidade nunca possuem contas de mais de um cliente na mesma linha de produto, normalmente a pedido de seus próprios clientes, mas isso é o que o mercado chama de ética.
Cansei de ver em todas as publicações nacionais propagandas de diversas empresas concorrentes, uma após a outra. Em qualquer Info que você abra, passará por propagandas da Dell, da IBM, da HP, todas vendendo o mesmo produto, página após página. Isso é enojante, já que você pode esperar que as tedencias possam acabar, sem querer, apontando para o melhor anunciante.
Só que a Linux Magazine não é uma revista de informática, ela é uma publicação setorial, voltada para um produto em específico, no caso o GNU/Linux. Em mídia especializada, principalmente na mídia setorial, a publicidade é sempre vista com muito cuidado, e às vezes até com suspeita. E é exatamente isso que está acontecendo agora com a comunidade de Software Livre ao ver anuncios de Microsoft e do Windows em sites especializados em GNU/Linux.
Falar em suas reportagens uma coisa e em suas propagandas outra não é, e nem pode ser, a melhor maneira de levar uma publicação às bancas e fazer lucro, lembrem-se que é por causa desse tipo de comportamento que nossa sociedade tem perdido a crença na classe política, vejam onde esse tipo de comportamento nos levou. A imprensa, quando sujeita as necessidades monetárias e pressões por lucro sempre perde sua credibilidade.
A comunidade de software livre não pode fazer como quis sugerir o editor da Linux Magazine Brasil, sorrir e achar graça da Microsoft estar "jogando dinheiro fora" anunciando em mídia que é voltada para profissionais GNU/Linux por dois motivos principais:
1- Quando envolve dinheiro a MS é, talvez, a melhor do mundo, é inocência demais achar que agora, quando enfrentam seu pior inimigo, estejam errando a mão nas estratégias e trocando os pés pelas mãos. Quando o assunto é bater a concorrência a MS sempre se deu muito bem e não acredito que sua estratégia não vá causar danos ao mercado de software livre a médio e longo prazo, por mais inofensiva ou ineficaz que pareça hoje.
2- Uma mentira repetida muitas vezes pode virar verdade. Quantas vezes já vimos isso acontecer no mundo da informática? Talvez daqui a 5 anos seja consenso no mercado não especializado (ou leigo) que o TCO do Windows é menor que o do GNU/Linux sempre! Que faremos a respeito então? A MS já ganhou mercados e quebrou concorrentes várias vezes com mentiras publicitárias. Acreditem, não ligar para elas ou mesmo ficar ecoando-as aos ventos acompanhadas de chacotas, como fez a Linux Magazine não irá mudar as coisas.
Quando briga-se com um adversário forte, deve-se respeitá-lo ainda mais. As empresas e pessoas que já adotaram o GNU/Linux talvez saibam que as campanhas publicitárias da MS não trazem a verdade. Mas e as que ainda não adotaram, o que pensam sobre o assunto? A campanha Get the Facts pode não estar impedindo o GNU/Linux que aumentar sua participação no mercado, mas pode ter diminuido o ritmo de crescimento, pode a longo prazo impedir migrações importantes para a plataforma. Dizer que os usuários de GNU/Linux sabem que Get the Facts não é verdade é dar com a cabeça na parede, pois a fatia de mercado do GNU/Linux só vai crescer se o produto conquistar novos clientes, que são aqueles que não sabem que podem lucrar mais com GNU/Linux, por isso ainda não migraram.
E isso leva à outra coisa importante que ainda não vi ninguém comentar nos foruns e sites de notícia da internet. É sabido que o forte das plataformas livres é o suporte das comunidades de desenvolvedores. Essas comunidades são unidas pelas publicações que agora disseminam propaganda pró Microsoft e Windows. A perda de credibilidade nessas publicações já está acontecendo e várias comunidades já se dividem em opiniões favoráveis e contrárias à essas publicações. E talvez seja só isso que a MS queira, que as comunidades percam tempo discutindo sobre isso e que as publicações setoriais percam sua credibilidade perante o público geral. Assim a maior fonte de suporte ao software livre estaria comprometida com um cisma difícil de resolver.
Pensem um pouco sobre isso, se esse não é o real interesse por trás dessa coisa toda. A MS não estaria jogando dinheiro fora se perdêssemos a confiança nas fontes de informação sobre software livre. Novos clientes ficarão pensativos ao ver mídias que defendem fervorosamente o GNU/Linux publicando inocentes banners sobre como o Windows é mais barato de implementar e operar que seu concorrente. Ao chegar no próximo evento de software livre, pergunte-se como você reagiria se houvessem banners da Microsoft pendurados nas paredes, tente imaginar o que você deveria esperar de um evento assim e você entenderá como as empresas que consideram uma migração para GNU/Linux nesse momento vão encarar todo esse panorama. E vislumbrem, finalmente, como a MS é inteligente nesse tipo de tática.