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quarta-feira, janeiro 11, 2006

Confusão sobre o Linux

Como anunciei algum tempo atrás eu estou escrevendo artigos para o Meiobit.com. Cada vez que eu posto lá eu anuncio aqui e os leitores vão de cá pra lá, alguns de lá pra cá e postam comentários em ambos os sites. Me esforço para ler e responder e agradeço a todos pelo retorno. No anuncio do segundo artigo o leitor Adam Brandizzi postou um comentário onde sugere que há uma confusão criada na comunidade sobre como um novato deve ser apresentado ao Linux. Para entender toda a história é interessante seguir todo o roteiro:
- Meu artigo no Meiobit.com;
- Meu anúncio aqui sobre o artigo;
- O comentário do Adam;

O que pensei com todo esse papo e decidi colocar em um novo artigo para ter maior visibilidade é que não é fundalmentalmente um erro conceitual apresentar aos novatos o universo Linux como normalmente fazemos enquanto comunidade. Com suas complexidades e detalhismo. É excesso de boa vontade de nossa parte.

Como defensor do Software Livre e da propagação do livre conhecimento para todos devo dizer que não é minha função determinar o que os usuários (mesmo os novatos) podem ou não saber. Isso é função da Microsoft, fundamentalmente.

O erro de conceito, e devo concordar com o Adam que existe um, talvez seja o de que a palavra Linux não designa um sistema operacional. Nem o termo GNU/Linux designa um sistema operacional em si, para evitar o velho clichê da FSF. Linux ou GNU/Linux, como queira, determina uma classe de sistemas operacionais e é aqui, logo no começo, que o usuário novato ou recém vindo do Windows começa a ter problemas.

No mundo Windows existe apenas um sistema operacional, que é o último, o mais recente. Ninguém precisa lembrar-se ou saber o que é o Windows 3.11, ou o Windows 95, ou mesmo o Windows 98 e o ME que ainda são usados em larga escala por aí mas tendem a desaparecer à medida que processadores de 64-bit e núcleos duplos se difundirem. Windows é o XP, e em breve será o Vista. O que um usa todos usam. E é esse sistema que todos usam que é o Windows, ponto final.

Nas provas de certificação Linux apenas agora o barramento ISA foi retirado da berlinda, mas há quanto tempo não se fabricam máquinas com esse barramento? Um administrador de sistemas Linux precisa conhecer como a palma da mão ao menos duas versões de kernel, a 2.4 e a 2.6. Ir do Slackware para o Mandriva representa toda uma mudança de oranização interna do sistema e funcionalidades. E dentro da mesma distro podem haver mudanças significativas, como a escolha entre dois servidores gráficos distintos, o XFree e o Xorg. Para quem está acostumado com isso, sem problemas, mas para os novatos essas diferenças podem representar barreiras difíceis de transpor.

Explicar isso para um usuário de Windows é uma tarefa complicada, pois o Windows é um sistema operacional, UNIX e Linux representam tipos de sistema. Adam sugere que deveríamos apresentar aos novatos um único sistema Linux em vez de apresentar várias distros e propor a experimentação de cada uma como forma de achar o sistema ideal para cada um. Pode até ser que isso ajude mais pessoas a migrarem para Linux, que isso ajude o Linux a penetrar mais fortemente no desktop. Me e daí?

A graça e a potencialidade do Linux está na flexibilidade de sua configuração. Tire isso e você tem um sistema operacional comum. Novatos não entendem porque um Linux precisa ter 6 terminais virtuais de texto, mas eu sei que isso é importante. Novatos também não sabem a importância de ter uma senha de root e usar um usuário com poucos privilégios, mesmo sendo isso fundamental para a segurança da máquina. Meu ponto é: tire do Linux tudo que os usuários de Windows não entendam ou não usam e você terá um sistema igual ou pior que o Windows.

Explicar para os novatos que o Windows é um só mas que Linux são vários passa a não ser apenas uma questão de facilitar ou dificultar as coisas mas uma questão de começar do jeito certo ou do jeito errado. Para o usuário de computador falta conhecimento técnico e histórico, falta entender o que é um computador e pra que ele serve. Há anos uso o argumento de que computadores, por sua capacidade e complexidade, exigem do seu usuário um nível mínimo de conhecimento. Na maioria das vezes os problemas ocorrem porque o usuário quer operar o computador sem dispor desse nível técnico mínimo. As coisas saem errado e não se sabe porque. As pessoas querem usar os computadores mas não querem aprender a fazê-lo de fato, e isso torna a experiência frustrante na maioria das vezes.

A grande falha conceitual é na verdade do usuário, que ao primeiro fracasso desiste e opta pelo caminho mais fácil. Usuários de Windows que tentam usar Linux encontram termos que não são estranhos para usuários de computador, são a terminologia básica usual, que a Microsoft optou por não usar no Windows. Mas ao não conseguirem compreender as coisas no universo Linux ignoram a oportunidade de esforçarem-se um pouco, estudar um pouco, conhecer algo novo e decidem continuar usando Windows, porque foi fácil aprendê-lo, eles já sabem usá-lo. Mas afinal quantos usuários leigos de Windows, esses que não conseguem enveredar seu caminho pelo Linux, conseguem dar manutenção em seu próprio equipamento?

Parece-me claro, à essa altura da minha vida, que quando um usuário consegue dar manutenção adequada em seu próprio computador ele consegue migrar de Windows para Linux sem grandes problemas. Então toda essa discussão nos fornece (no mínimo) duas possibilidades:
1- Adaptar o universo Linux para que ele se pareça mais com o do Windows e assim facilite-se a chegada de novos usuários leigos à plataforma;
2- Concientizar todos aqueles que decidirem usar Linux de que um empenho e um estudo são necessários para que você possa aprender a manejar uma ferramenta que é totalmente estranha para você (!);

Dado o número suficiente de olhos todo problema torna-se óbvio, eu estou apenas olhando para a ponta do iceberg aqui. Sei que a alternativa 1 levaria centenas de usuários a instalar o Linux e tentar usá-lo e ela pode mesmo surtir efeitos positivos sobre a comunidade, sobre a indústria e sobre o próprio GNU/Linux. E ela também parece ser a mais fácil, o que me desperta para um problema. Diz-se que existem dois jeitos de fazer as coisas, o certo e o fácil. Devemos fazer as coisas pensando no efeito que elas causarão a longo prazo. Um Linux fácil, sem as complicações e complexidades que conhecemos será um novo tipo de Linux que irá, com o tempo, ficar cada vez mais distante do Linux em si, da mesma forma que um Mandriva é distante de um Slackware. A longo prazo esse "novo Linux" fácil e para leigos será outro sistema e teremos falhado na tentativa de fazer as pessoas usarem um sistema pelo que ele é e não pelo que ele diz ser.

Não se trata de uma guerra, nem tão pouco a Microsoft é um inimigo. Há um sapato adequado para cada pé, inclusive na informática. A Microsoft foi bem sucedida em criar um sistema operacional para leigos, pessoas que não querem entender o que IRQ significa. O preço a pagar é pouco compromisso com estabilidade e segurança, mas a vida é assim, tudo tem um lado bom e um lado ruim. Àqueles que, como eu, isso não bastou ou não era bom o suficiente houve alternativas e o Linux foi uma delas.

Não devemos, nem podemos, adaptar o Linux ou a experiência de usar Linux para os novatos, essa é a solução fácil do problema. Devemos sim, enquanto membros da sociedade, concientizar a todos da importância de saber usar e entender computadores, só pelo seu valor enquanto ferramenta para a humanidade. Os dispostos a aprender, entender e arriscar continuarão encontrando no Linux um sistema coplexo, sim, mas também muito flexível e poderoso. Os que não desejarem absorver esses novos conceitos, edificar esse novo estudo, podem permanecer onde estão, pois ali é seu lugar.

A matemática não ficaria melhor se ocultássemos suas grandes complexidades em prol de uma maior adoção da mesma, ela seria mais divulgada, mas ficaria manca. Quando crianças tem dificuldades com os números exigimos que elas estudem mais, usamos aulas extras, novos métodos, mas nunca abrimos mão que elas passem nos testes e entendam o mínimo dessa ciência. A Informática é também uma ciência e não deveria receber tratamento distinto.

Dispensar as pessoas da necessidade de entender e estudar os conceitos fundamentais da informática é prejudicial para o seu futuro. É negar todos os avanços e benefícios que o Software Livre já conseguiu por nós. Criar um sistema onde as pessoas não precisam aprender nada novo para poder chegar a objetivos novos é triste, é subestimar a capacidade humana e é desistir da intenção de uma sociedade igualitária e justa. Peço que meus companheiros de comunidade de Software Livre não desistam de ensinar a todos o que é preciso para poder usar o Linux, pois só quando o usuário sabe o necessário para usar o Linux é que ele sabe o necessário para usar um computador. Enquanto ele souber menos que isso, ele apenas saberá usar Windows.

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Comments:
Olá, Falcon Dark!

Esta resposta foi muito rápida, e muito contundente. De fato, concordo com praticamente tudo que foi dito, mas isto não muda o meu ponto de vista. O que, diga-se de passagem, é algo raro: normalmente é muito fácil me convencer do que quer que seja :)

Sua argumentação, de fato, foi muito boa, mas eu diria que, partindo ambos de um ponto comum, fomos em direções contrárias: você expandiu a área de atuação de meu argumento - que já era larga demais devido à minha inabilidade com as palavras.

O problema que eu vejo *não é* o variado número de distros, mas sim a maneira como esta variedade é apresentada sobre um mesmo rótulo esotérico "Linux". Não estou propondo que se não ensine este ou aquele Linux, ou que se ensine apenas um, mas que se *comece* com apenas *um* Linux - e não *o* Linux. A confusão intrísceca entre distro e Linux em si é tão forte que acredita-se que Linux é um só sistema operacional - e manter a crença nisto é, de fato, não só omitir dados mas enganar o usuário.

O que eu sugiro não é que se esconda algo, mas que não proponhamos mais ensinar o sistema operacional Linux e sim ensinar os sistemas operacionais Linux através desta ou daquela distro. Mais que isto: quando pusermos o Kurumin para rodar na máquina de seu amigo e ele perguntar: "Então isto é o tal Linux?" respondamos "Não: isto é Kurumin."

O problema, acredito, é que o usuário de Windows não vê apenas um Windows, mas todos os Windows como um só sistema operacional. Mudar do w98 para o wXP, para um usuário, creio eu, parece mais com mudar de uma skin mais leve e mais instável para uma skin mais pesada, porém mais estável. A idéia de mudar de sistema operacional é praticamente inexistente para este tipo de usuário.

O problema é que isto não se aplica ao Linux, creio. Pense bem: a família de sistemas operacionais Windows mantém os mesmos foco e técnica desde praticamente o w3.11. Nâo dá, porém, para pôr no mesmo saco Gentoo, Slackware, RedHat, Ubuntu, Kurumin, Debian e Mandriva. Sim, elas se aproximam em muitos pontos - mas também se afastam demais. Então, ao invés de facilitar ao usuário manter a mesma estrutura de relação dos windows para o Linux, eu proponho *forçar* a separação entre um Linux e outro.

Isto seria importante, inclusive, quando tocamos no ponto que você notara: a cultura de tornar o Linux simplório. Eu concordo com você: se o usuário não mudar a visão dele ao usar Linux, não há muito sentido em pô-lo neste mundo. O "não-problema" é que nem todos concordam com isto, e o melhor, estes que não concordam podem pegar tudo que foi feito e fazer o Simploriux deles :) e vai ser importante o usuário saber, neste momento, a diferença entre Linux e Linux.

Exemplo concreto: Kurumin é inseguro para os padrões dos Linuces. Se um usuário sofre uma perda devido à esta insegurança (o que acho improvável) e, na mente dele, Kurumin ser o Linux, ele reclamará do Linux, e não do Kurumin. O que eu vejo é que é este o momento onde a comunidade tenta explicar a diferença. Então, ponha-se no lugar do usuário prejudicado: para você isto não pareceria uma desculpa inventada em última hora? Depois de três meses brincando com Kurumin, não pareceria uma tentativa de engodo? Para mim, pareceria.

De fato, eu concordo em quase tudo com seu texto - exceto no ponto em que você discorda de mim. Eu quero que o usuário tenha acesso à diversidade, mas não são todos como nós, que conseguimos captar toda a imensa quantidade de informações sobre Linux numa tacada só. O que eu digo é que a informação prioritária para um usuário doméstico não é a diversidade de Linuces, mas sim que Linux é diferente de Linux e que o que ele usa (pois proponho que comece com um só, e sempre acompanhado) é algo quase totalmente diferente do outro que seu amigo usa. Depois disto ele mesmo descobrirá a diversidade de Linuces - ou, se não descobrir, apresentamo-lha.

Eu concordo que tem gente que "é para Linux" e gente que não é, mas eu acredito que tem gente "que é" mas fica chocado com a pirotecnia do universo do Linux. Você disse que, quando a matemática é complicada, a criança deve estudar mais - mas eu sei que na sua primeira aula você não foi apresentado de uma vez às quatro operações. Proponho ser simples - não simplórios. Ou melhor, simples não: didáticos. Pense bem: depois que seu vizinho estiver feliz no Ubuntu acessando a Web, lendo e-mails, jogando e sabendo os primórdios de Linux (permissões, terminais, X etc.), ele certamente estará mais disposto para experimentar Debian ou Slack ou Gentoo do que se ainda estivesse tentando saber como instalar o OpenOffice em cada distro a que foi apresentada.

Neste ponto, creio que convergimos. O que eu digo é que seu vizinho deve ter consciência não de que está usando Linux - mas sim Ubuntu. Ou Slackware. Você pode ensinar seu vizinho a instalar o samba com suporte a ActiveDesktop no Slackware - eu só proponho que você não o ensine isto neste ser platônico chamado "Linux".

Desculpe, escrevi demais novamente - e sequer comentei tudo que queria. Eu tenho uma retórica horrível, falo demais. E olha que cortei muitos parágrafos... Espero, pelo menos ter sido muito claro. E gostaria, certamente, de conversar mais sobre o assunto :)

Na verdade, sinto-me honrado só de tê-lo feito pensar no assunto: é mais do que minha conversa fiada merece... :)

Abraços, e até mais!
 
Muito bom...

Isso me lembra de uma história antiga onde comparavam o computador a um carro.

Para você dirigir um carro você precisa obrigatoriamente fazer aulas e passar em um teste que lhe dá uma carteira que lhe confere a liberdade de usar um carro. No entanto, apesar de ela ser por lei obrigatória, você pode simplesmente sem carteira dirigir um carro. E isso é comumente visto nas ruas.

Com o computador existe a mesma idéia, ou pelo menos existia, só se entregava um computador a quem tinha pelo menos um curso básico de introdução a informática. Hoje em dia isso não é mais realidade, você pode ver várias pessoas usando computadores por aí que nunca sequer estudaram um pouco para isso.

Nesse meio temos dois casos: pessoas que são autoditadas, não aprendem nas escolas, não fazem cursos, mas sabem fazer as coisas, e temos os que não se interessam muito pelo aprendizado, mesmo que de forma pessoal, e se mantém utilizando as "ferramentas" sem conhecimento algum disso. Até que ponto isso é benefico? Existiria um meio termo para isso? Poderíamos de alguma forma imputar aprendizado mesmo em sistemas simples de utilizar?
 
Fico feliz com o retorno e com as respostas de vocês.

Adam: De fato nossa visão sobre esse assunto é muito parecida. Endenti que você não propôs a adoção de uma visão mais simplória e tão pouco que tenha sugerido ocultar as complexidades atrás de uma máscara de falsa usabilidade, muito pelo contrário. É sua postura perante o assunto que me fez gostar muito do seu argumento e falar sobre o assunto. De fato andamos por caminhos diferentes, mas temos o mesmo panorama final em mente: ajudar o usuário a distinguir o Linux enquanto tipo de sistema da distribuição a ser adotada. Já que pensamos isso e concordamos com isso vamos aparar as arestas com relação aos meios.

Esse é o ponto filosófico mais controverso na adoção em massa do Linux hoje, a meu ver. Existem correntes que pensam que o Linux deva aproximar-se da abordagem de sistema que o Windows usa, o que penso ser errado. E existem correntes, da qual eu e você fazemos parte, que acreditam ser a educação e a concientização plena do usuário seja o melhor caminho. Isto dito parece-me que discordamos apenas no método pelo qual isto deve ser implementado ou apresentado para os novatos. Seu ponto parece ser o de introduzir apenas uma distribuição e ressaltar que ela tem uma identidade própria bem definida, sendo a terminologia Linux apenas uma referência para o padrão ao qual esse sistema obedece. Essa idéia para mim parece muito correta e uma abordagem bem simples a ponto de ser entendida muito bem por qualquer usuário, mesmo o mais leigo, desde que ela seja bem apresentada. E isso é bom.

Eu acredito que quanto antes o usuário seja alertado para o tamanho do universo Linux, seu nível de complexidade e a tipologia de seu eco-sistema melhor ele poderá preparar-se e mais acertadamente poderá fazer suas decisões, inclusive a escolha da distro mais adequada. Pondero agora que isso seja reflexo de minha formação. Como engenheiro aprendi que você deve primeiro conhecer todo o problema antes de tentar resolvê-lo. E admito que essa não é a única maneira de resolver as coisas e muitas vezes não será a melhor. No entanto imagino que para um novato que tenha sido apresentado à uma distribuição mais simples como o Ubuntu a imagem de um Debian será, futuramente, muito mais assustadora do que para um novato que já conhecia a existência desse segundo sistema.

Em miúdos não devemos empurrar o novato no meio de todo o turbalhão de centenas de distros e diferenças entre elas de uma vez. Nem devemos confundir o conceito de distro com o conceito de sistema operacional tipo Linux. Concordamos em ambos os pontos. Mas penso ser melhor para o futuro do usuário no mundo Linux que ele tome conciência dessas complexidades o quanto antes, mas por conta própria e com o devido embasamento.

Devo reconhecer, entretanto, que mesmo esse caminho que eu defendo passa pela solução que você habilmente explanou nesse comentário. Apresentar o Kurumin para um novato, explicar-lhe que isso não é Linux, e sim um sistema operacional tipo Linux, explicar-lhe as peculiaridades desse sistema específico e as diferenças entre ele e outros sistemas tipo Linux. Depois disso permitir que ele explore os caminhos na velocidade que sua aprendizagem permitir. E então ele fará contato com outras distros, com o devido conhecimento prévio do que está por vir, onde for possível.

A grande dificuldade, repito isso, é que de fato usuários enxergam as várias versões de Windows como sendo um sistema só, normalmente a última versão serve de referência. Então para qualquer usuário vindo deste ambiente a variedade do mundo do software livre impressiona e assusta.

Nós devemos buscar meios de permitir essa transição, mas sempre com duas coisas em mente:
1- A manutenção das qualidades do Linux, que são o que o tornam diferentes do Windows e uma opção à este;
2- A evolução e o aprimoramento dos conhecimentos informáticos da população mundial, o que só se pode fazer se as pessoas concordarem em aprender coisas novas.

Buscar meios para estimular esse aprendizado é o grande desafio para os evangelizadores do Software Livre. Acredito que em linhas gerais concordamos em como fazer isso e vejo esse denominador como algo positivo para todos nós.

Everson:Essa comparação com o carro é clássica e eu uso-a muito. Automóveis são peças mecânicas muito complexas, mas sua utilização e finalidade são muito simples. Servem para nos transportar e qualquer pessoa com alguma prática e concentração pode manuseá-los. E ainda assim criamos toda uma metodologia de qualificação para que cidadãos possam usá-lo, a eles destinamos legislações específicas e para cada uso incomum temos tipos de habilitações diferentes. Os computadores... bem, se eu fosse enumerar os tipos de uso que podemos dar a computadores talvez ficasse escrevendo a tarde toda e não conseguiria listar todos. As maneiras de operá-los também são muito numerosas e diversas. Que tipo de treinamento as pessoas deveriam receber ou que conhecimento deveriam ter para terem uma "licença" para operar computadores? Segundo a Microsoft nenhum.

O Windows é projetato para ter uma operação intuitiva. Por operação intuitiva suponho que signifique operação desprovida de treinamento, aplicada unicamente com a intuição natural do usuário. Nossa intuição sobre as coisas é relativa, para começo de conversa, e pode estar errada sobre muitas coisas. O tempo por exemplo é algo sobre o qual nossa intuição está totalmente errada e Einstein nos provou isso com a Teoria da Relatividade. Uma máquina poderosa e multi-funcional como o computador pode ser qualquer coisa, menos intuitivo. Sempre é necessário algum treinamento, algum conhecimento de fundo para que se use computadores.

Deixem-me contar algo, tenho um afilhado de 6 anos chamado Enzo. Ele adora vir à minha casa e jogar jogos de computador, especialmente aqueles joguinhos em flash que podem ser jogados on-line na internet. Sempre que está por aqui pede que eu deixe ele brincar no site do Cartoon Network. Ele costuma usar o PC da minha irmã para isso, que até pouco tempo atrás (cerca de 1 ano) ainda usava Windows e IE, e ele brincava sem problemas. Ao entrar na página ele já sabia onde clicar para usar os jogos, mesmo sem saber ler corretamente ele identificava personagens como o Scooby Doo e o Perna-Longa. Quando pela primeira vez ele foi jogar com Mandriva e Firefox ele notou e apontou diferenças entre a aparência dos programas, mas não teve problemas para usar as barras de rolagem, os ícones e não fez diferença para ele a mudança no sistema e na aplicação. Em poucos minutos ele estava usando sem problemas, e quando acabou ele desligou o sistema operacional e o computador. Quando questionei-o sobre como ele conseguira achar o meio correto de desligar tudo ele respondeu com a maior simplicidade do mundo: "Tio, cliquei no botão vermelho!". Nada disso foi intuitivo, ele aprendeu a associar a barra da direita com a rolagem da tela, aprendeu que um botão vermelho talvez desligue as coisas, intuitividade zero, conhecimento de fundo 100%.

Tudo que uma pessoa precisa pra usar bem um computador é ter conhecimento de fundo adequado para a tarefa que ela quer executar, mais nada. Com o conhecimento de fundo assimilado adequadamente qualquer pessoa pode usar um sistema GNU/Linux. Basta que ela esteja disposta a aprender o necessário e que encontre os meios para chegar à informação correta, e pronto. Com informação em mãos e desejo de aprender qualquer usuário de Windows pode hoje usar um sistema Linux. O que as pessoas precisam entender, e nós temos que ajudar elas nesse processo, é que você não aprende a usar bem uma ferramenta que é completamente nova para você sem aprender a fazê-lo. Nenhum de nós pegou uma bicicleta sozinho e saiu andando por aí. Ninguém aprende a dirigir um carro sozinho. Sempre é necessária alguma observação ou alguma troca de informações com alguém mais experiente. Mas por algum motivo existe entre os leigos de informática a idéia de que com computadores é possível fazer isso, usar sem tentar aprender como. Eu percebo que esse "algum motivo" são as mentiras que muitas empresas, como a Microsoft e a Apple (vão me escurraçar com essa), propagam a anos sobre facilidade de uso. Acho isso muito incorreto. E quando surge alguém sincero que diz: "Olha, isso aqui é muito bom, mas exige de você tempo e dedicação" como o Linux a alma acomodada do ser humano tende a conceituar isso como algo difícil, pois exige estudo.

Lá em cima o Adam comentou meu exemplo matemático e disse "quando a matemática é complicada, a criança deve estudar mais - mas eu sei que na sua primeira aula você não foi apresentado de uma vez às quatro operações." e de fato não fui, mas isso não significa que se eu tivesse sido apresentado às 4 operações na mesma aula eu teria uma dificuldade maior de compreender como a matemática funciona. É perfeitamente possível que alguém seja apresentado à um assunto complexo para seu intelecto "de sopetão" e ainda assim compreenda-o na plenitude. O humano tem uma capacidade brutal que é sub-utilizada na maior parte do tempo. O que é preciso é que se deixe de lado a cultura da facilitação pela preguiça que está sendo implementada na nossa sociedade.

No mundo todo crianças estão vendo um computador pela primeira vez com Linux, irão crescer brincando com ele e verão nele algo natural quando chegarem ao mercado de trabalho em 15 anos. Entre essa geração vindoura e a anterior à nossa, aquela que efetivamente criou os computadores, haverá essas centenas de usuários que não entendem de computador e acham tudo difícil. Aqueles de antes usavam UNIX, esses próximos usarão Linux; porque esses de agora acham isso difícil? Porque essa geração, os que conheceram computador a partir da segunda metade da década de 1990, foram criados em um ambiente computacional dominado por um sistema fechado, proprietário, que não estimula o aprendizado. Essa cultura tornou os computadores tão míticos e incessíveis com propósito de manter mercado. A indústria da informática seguiu os passos de todas as outras e usou o capitalismo com o que ele tem de pior. Já disse isso antes, a informática deve deixar de ser tão negócio e ser um pouco mais ciência. E nesse aspecto nada tem contribuído mais que o Software Livre.
 
Olá, li a matéria e compreendo o assunto falado. Realmente as pessoas tratam o linux como algo singular diretamente inimigo do windows.
Adorei a visão, principalmente quando compara sobre a criança que Deve aprender.

P.S.: Ainda uso windows. Estou muito disposto a aprender sobre linux. Mas é o seguinte, instalei esses dias o Ubunto por aqui e não consegui fazer tal me conectar a internet.[adsl-BRT-modemUsb]
Se alguma boaalma puder me ajudar com isto ficarei muito agradecido.
Meu msn: rafael@quinari.com.br
e-mail: rslonik@gmail.com
 
Obrigado pelo comentário, Rafael.

Sobre seu problema com o Ubuntu e o modem ADSL, há dois links que podem ajudar:
http://www.google.com.br/search?hs=iBp&hl=pt-BR&client=firefox&rls=org.mozilla%3Aen-US%3Aunofficial&q=ubuntu+adsl+usb&btnG=Pesquisar&meta=lr%3Dlang_pt
http://www.forumgdh.net
 
"As pessoas querem usar os computadores mas não querem aprender a fazê-lo de fato, e isso torna a experiência frustrante na maioria das vezes."

Eu que trabalho num cyber café posso dizer que nunca li uma descrição tão boa do que vejo diariamente aqui 10 horas por dia.
Sobre o Linux, não posso falar muito do assunto, pois ainda estou no final da fase de explorar no live cd.
ParabénS pelo artigo
 
Usava Windows e achava que só havia ele. Ouvia falar de Linux, mas parecia muito distante. Mac? Ah, sim, aqueles computadores bonitos? Ahn...

Um dia, o Win98 me deixou P da vida. Eu já estava/estou acostumada a formatar o HD a cada 6 meses, afinal "computador é assim mesmo, né?". Fui numa banca e vi um exemplar da H4ck3r Security que vinha com um CD do Kurumin 2.4 - se não me engano. Testei e adorei o bicho! O Mac eu conheci mais tarde, na faculdade, mas apesar de MARAVILHOSO, está muito longe do meu poder aquisitivo.

Mas isso é o MEU exemplo. Eu sou curiosa, fuço mesmo. Sou uma linuxer-macmníaca convicta, se é que isso é possível, apesar de não chutar o Windows e usar 100% Linux, ou ter meu Mac em dual boot com o Ubuntu.

Mas veja bem: milhares de computadores populares foram vendidos pelo PC Conectado, logo logo chega o notebook de 100 dólares, e pessoas que nunca usaram computador na vida, que não são "viciadas" no Windows vão conhecer o GNU/Linux...

Não sei quanto vai demorar, mas vejo que as nuvens nebulosas que pairam sobre a mitologia de Linux ser "complicado", "feio", "difícil" e "modo texto" estão indo embora. E o tio Bill teme isso!
 
Concordo com a Faby,

Eu sinceramente não sei porquê uso Linux!!ou sei, bom acho que sim. Desde meu descobrimento do computador, eu fui/sou muito curioso, quero saber porquê o fiozinho vermlho oo flat tem que ser ligado junto ao vermelho da força, saber como a bolinha do mouse faz para rodar os cones e mover o ponteiro, já até usei o mouse de cabeça pra baixo, para ver o que acontecia :D.
Enfim, talvez seja por esse motivo que eu uso Linux. E tem uma coisa mais difícil do que usar Linux, é convencer usuários de Windows a pelo menos esperimentar LINUX, isso devido a comodidade e a falta de curiosidade de tentar algo novo. Portanto, acredito e afirmo que Linux é para curiosos, pessoas que querem saber como funciona um Sistema Operacional e se afundar mais na questão.

Por exemplo, ainda tenho um Dual Boot em minha máquina. Minha namorada vem aqui em casa liga o computador e fica desesperada apertando para baixo para entrar no Windows,, pois tudo que ela quer é entrar no Messenger, jogar uma DAMA e mandar Scraps. Já lhe aprensentei o Linux e sabe o que ela falou?? "Legal, mas amor, volta pra lá....".

Estou fazendo um treinamento no TERRa (onde trabalho) e esse treinamento abordou (teoriacamente) LINUX. Como tenho uma porção de CDs do Ubuntu, resolvi então oferecer ao povo do treinamento. De um total de 23 pessoas, apenas 10, tiveram a pró-atividade de pelo menos "GANHAR" o CD. Agora me pergunte, se eles irão experimentar...!!! É Ruim hein!!!
 
Olá,
Gostei de alguns pontos que você levantou no post, como o comodismo dos usuários do windows, e a falta de vontade em aprender algo novo.
Percebo que ninguém quer quebrar a cabeça e pensar. A maioria quer aprender o mínimo possível.
Estudo numa universidade privada, onde em conversas com alguns amigos percebo que a maioria está interessada apenas em internet, msn e orkut.
Outros, mal sabem usar um editor de textos para montarem seus trabalhos e outros, pouco usam um pc.
Se falar em usar um novo SO então, vão perguntar se estou falando inglês ou chinês...
Pra ser sincero não sou um expert em informática, mas há muito tempo estou descontente com o windows, por isso baixei o kurumin, estou procurando usá-lo do cd, nas férias vou instalar no hd, ler mais sobre o assunto e aprender a usar o linux.
Mas para isso é preciso curiosidade, vontade e disposição. E isso é para quem quer...
Sei que não é fácil, mas é preciso encarar novos desafios.
É isso!
 
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