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sexta-feira, agosto 26, 2011

Vinte anos de Linux

No último dia 25 de Agosto o Linux completou 20 aninhos. Existe um artigo no Ars Technica muito bem escrito e interessante sobre a história, a motivação e o resultado dessa trajetória que eu recomendo a você. Se você não conseguir ler em inglês ou estiver com preguiça o vídeo abaixo conta a história de forma lúdica e bem-humorada e tem legendas se você ativar o botão CC.



Aqui eu quero falar de outra coisa. Quando o Linux nasceu, em 1991, o Windows estava em sua versão 3.0 e era (pasmem) muito pior do que é hoje (sim, é possível). E ainda que desde então o Linux não tenha incomodado muito o Windows em termos de dominância de mercado é inegável que o Linux ajudou a moldar o sistema que o Windows é hoje. Para comprovar isso basta revisar a evolução da preocupação com segurança dos engenheiros da Microsoft. O Windows 7 possui uma preocupação com a segurança e com a separação dos usuários que existe, provavelmente, para concorrer com o Linux no mercado corporativo.

A instalação do Windows também passou a ser mais modular e flexível para proporcionar aos administradores de redes instalar o sistema em lotes de máquinas com menos esforço. São pequenas coisas que talvez não estivessem no Windows se outro sistema não as oferecesse. Não estou acusando a MS de plágio, cópia nem nada disso. São inovações que tem deixado o Windows melhor para quem precisa, ou gosta, dele. São os efeitos positivos da concorrência.

Mas o Linux também ajudou a dar outras formas para outras paisagens. Ele carrega uma parcela de culpa por perdermos duas das mais inovadoras empresas da história da TI: Sun e Silicon Graphics. Ambas não souberam competir com máquinas baratas baseadas em Intel x86 rodando um clone livre (e gratuíto) de UNIX. Não faliram por culpa do Linux, mas perderam grande parte de sua receita por não conseguir inovar a tempo. Essa perda de receita pode ter sido o começo do fim.

O mercado de Unix também foi bastante afetado pelo surgimento e posterior evolução do Linux e nomes tradicionais do segmento como HP e IBM também sentiram o peso de brigar contra um sistema tão inovador no conceito e na disponibilidade. A IBM se rendeu e mesmo tendo mantido o AIX em linha aprendeu a integrar o Linux em boa parte de sua gama de ofertas. A HP foi mais resistente e não se destacou muito mais do que já tinha conseguido fazer desde o final da década de 1990.

Mas pessoalmente eu considero o Linux um dos grandes responsáveis pelo boom da TI nos anos 2000. Junto com o Apache httpd e com o MySQL o Linux deu à milhares de jovens empreendedores e suas startups ferramentas que, se licenciadas de vendedores tradicionais, custariam dezenas de milhares de dólares. Muitos dos melhores negócios da era da internet jamais teriam acontecido se seus idealizadores tivessem que pagar por licenças de Windows, IIS e Oracle. O Linux foi o primeiro sistema operacional de servidores que você poderia usar para começar seu negócio sem ter que empenhar a casa para licenciar.

Esse aspecto é fantástico porque coloca o Linux em uma galeria de ferramentas de valor amplamente disponíveis onde só estávamos acostumados a ver coisas imateriais. Você acharia absurdo ter de pagar uma licença para poder usar matemática financeira para escrever um Business Plan. Em nosso conceito a matemática é uma ferramenta que deve ser disponibilizada de graça a todos que precisam. Mas um software não. O engraçado é que para desenvolver a matemática milhares de gênios também trabalharam muito tempo para parece absurdo remunerar algum deles (ou seus acionistas) por sua valorosa contribuição.



O mundo de TI, com seu egoísmo e egocentrismo, tornava absurda a idéia de dar de graça algo tão poderoso como um sistema operacional Unix. E calma, eu sei que o BSD já existia desde 1977, mas ele tinha parte importante do código fechado de forma proprietária e é apenas a partir de 1991 que ele passa por iniciativas de abertura. Até hoje o Linux é mais popular que os sabores de BSD quando pensamos em software livre e pode-se dizer (em minha opinião) que boa parte da evolução do BSD também foi moldada pelo Linux. A partir da popularização do Linux nos meios acadêmicos e no mercado Unix é que fica barato iniciar uma empresa de tecnologia, pois o investimento em licenças de software fica muito baixo.

Se uma licença de AutoCad pode custar US$2.500 um sistema operacional de servidores custaria uns US$10.000. Se assim fosse quantos dos serviços que você usa hoje na web seriam viáveis. Lembre que só é possível dar espaço de graça a um blog como este aqui porque a pilha de software que roda para manter isso funcionando tem custo insignificante.

Até mesmo o mundo Mac sofreu influencias do Linux. Ao apresentar a primeira versão do Mac OS X Server em 2000 Steve Jobs fez questão de ressaltar a semelhança do kernel Darwin com o Linux em termos de características. Steve ressaltou também que era Open Source, pois naquele momento parecia que para um novo sistema dar certo ele teria que ser aberto como o Linux era. E ainda que nesse ponto a Apple tenha voltado atrás e fechado tudo é inegável que o Linux moldou parte dos conceitos que serviram como guias para o Mac OS X. A comparação com o Linux está perto dos 3 minutos do video abaixo.


Mas ainda há um mundo que foi alterado pelo Linux mais do que o PC. O mundo dos dispositivos móveis. Hoje um sistema baseado em Linux é o lider de vendas (ao menos  nos EUA onde dados são publicados, mas acho que os dados dos EUA se repetem no resto do mundo neste mercado específico) no segmento dos smartphones. Em 1991 ninguém adivinharia que o sistema criado para operar servidores e workstations de programadores iria achar seu grande sucesso em pequenos computadores operados por baterias com minúsculas CPUs de baixo poder de processamento.

Os dispositivos aplicados também encontraram no Linux uma grande força e coisas como TVs, roteadores, modems, etc, usam Linux e são muito melhores por isso. Você pode não saber mas seu roteador provavelmente usa Linux e se não usasse ele possivelmente seria mais caro de ser produzido e você teria pago um valor maior nele. E como o Linux passou a ter papel importante na internet, seja operando um modem, seja tocando um cluster de 80mil máquinas para o Google, faz parte da vida de bilhões de pessoas todos os dias, mesmo que elas não saibam ou percebam.

E estes foram apenas os primeiros 20 anos. Parabéns Linux.

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Quem faria bom proveito do webOS

Prólogo
O mundo da indústria de TI parece cada vez mais maluco. O PC está virando uma espécie de commodity, aquele tipo de coisa que você compra sem pensar pois sabe que precisa de qualquer jeito, como gasolina. E ainda assim apresenta vendas estagnadas. Qualquer estacionamento de esquina tem um PC funcionando. Bancos, lojas de departamentos, supermercados, aonde quer que existam filas de consumidores há dezenas de PCs. Todos conectados em rede fazendo suas tarefas de formiguinha.

Em casa todo mundo tem (ao menos) um. Pelo menos todo mundo que está acima da linha da pobreza. E no primeiro a maioria das casas tem mais de um. E fica fácil de entender porque as vendas não evoluem. Diferente da gasolina não se compra PC toda semana. E como os Sony Vaio ficaram muito parecidos com os Acer (por dentro e por fora) o consumidor começou a achar que PC é igual Miojo, não importa o sabor que está escrito na embalagem todos tem o mesmo gosto.

No mundo do PC miojo commodity o mercado (ao menos nos EUA) passou a procurar diferenciais. E ainda que fosse impossível encontrar algum PC diferente por dentro a Apple estava oferecendo PCs diferentes por fora. E bem diferentes. Não conheço alguém que ache os Macs feios e todo mundo que já pensou em gastar mais do que R$4mil em um notebook certamente estava encarando um MacBook em alguma vitrine da vida.

E a explosão de mercado dos Macs aconteceu. Sim, explosão. Nos EUA eles já são responsáveis por mais de 10% da base instalada de computadores e no mercado de notebooks com preço superior a US$999 Macs respondem por 60% das escolhas dos consumidores. Na verdade quando se fala de computadores caros praticamente só se vende Macs. Os PCs se tornaram a escolha de quem tem um orçamento apertado ou precisa de uma máquina com propósitos absolutamente genéricos. Esse movimento é tão forte que tornou a Apple o quinto maior fabricante mundial de PCs. Seria pouco não fosse o fato de que a margem por máquina vendida da Apple é seis vezes a obtida pela HP. Ou seja, a HP precisa vender 6 máquinas para conseguir o mesmo lucro que a Apple por cada PC entregue. Mas a HP não tem 60% do mercado. Isso significa que no mundo dos PCs miojo commodity quem mais ganha dinheiro é quem não transformou seu PC em miojo nem em commodity.

E por que isso é importante? Porque gerou momento e confiança para a Apple partir para o movimento da Era Pós-PC.

Deixando o PC para trás
A Apple capturou a atenção do mercado de tal forma que sentiu confiança para criar um tablet. Ela já tinha tentado ter um PDA antes, o Newton, quando o PDA parecia ser o bicho que destronaria o PC. A Palm não deixou que as ambições da Apple se tornassem realidade. Mas a maioria das pessoas olhava para o Palm e perguntavam: pra quê preciso disso? Para nada. E ele não destronou o PC.

O tablet não era novidade, a MS já havia demonstrado dezenas de vezes um notebook sem teclado rodando Windows XP. Mas as pessoas não queriam Windows nem em seus computadores, quem diria tê-lo em ainda mais dispositivos? Não me critique, essa é a verdadeira razão pela qual o Windows não vingou em nada que não seja um PC. As pessoas não querem aquilo em seus telefones, carros, GPS, etc. E se 90% da população do planeta fosse rica era o Mac OS quem teria 90% do mercado de sistemas operacionais. O share do SO da Apple condiz com o share da população que tem grana sobrando para comprar um computador. Ou seja, se as pessoas tivessem dinheiro para escolher não usariam Windows.

Mas mesmo depois de o mercado ter recusado o conceito de tablet algumas vezes a Apple sentiu-se confortável para tentar. Os sucessos de iPod e iPhone somados à grande tração dos Macs no mercado parece ter gerado na Apple a certeza de que sua versão para um conceito perdedor seria um sucesso. E foi mesmo. O iPad é uma unanimidade e a Apple vende todas as unidades que consegue fabricar. Para o varejo isso é uma festa, quando mais iPads se compra, mais se vende. É como vender água no deserto.

A Apple sorri e diz que inaugurou a Era Pós-PC, onde as pessoas só precisam de um PC quando vão fazer algo muito complexo do ponto de vista técnico, como desenvolver uma aplicação para o iPad. E os fabricantes de PC, o que dizem dessa coisa de Era Pós-PC? Eles concordam!!! Como assim?

O que não tem remédio, remediado está
Os fabricantes de PC concordam que a Apple inaugurou a Era Pós-PC porque assim parece que a Apple está batendo nas empresas de equipamentos de telefonia móvel. Porque ele é um dispositivo de acesso à internet móvel. Se os fabricantes de PC quisessem que o iPad fosse classificado como um computador eles estariam em apuros porque a Apple então se tornaria a maior fabricante mundial de computadores pessoais, ou PCs. Nada mal pra quem estava falida em 1996 não? É melhor admitir que seu produto está uma geração defasado do que assumir que você não consegue competir em seu próprio campo com uma empresa que não leva o mercado corporativo a sério.

Se somarmos as vendas de Macs e iPads a Apple é a empresa que mais vende computadores no mundo. Mas a indústria do PC fez questão de dizer, ei isso não é um PC. É um legítimo representante da Era Pós-PC, portanto não é problema nosso. Quem foi tentar concorrer com o iPad? As fabricantes de celulares, obviamente. Mas elas nunca tinham feito computadores ou sistemas operacionais como poderiam fazer algo além do PC sem nunca ter feito um PC? Bom, elas não fizeram. Até agora nenhum produto foi capaz de superar o iPad. Tentaram e falharam as então gigantes do mercado de telefones RIM (BlackBerry), Motorola, Samsung e HP. HP????? O que a HP está fazendo nesta lista?

Comprei um par de asas, acho que posso voar!
A HP adquiriu a Palm para entrar no mercado de smartphones, tablets e sistemas operacionais móveis. Por alguma razão a direção da HP achou que gastar 1,2bi de dólares para entrar em um mercado ainda mais competitivo e com ainda menores margens que o de PCs era uma grande idéia. A HP acreditou que o webOS, um brilhante SO desenvolvido sobre o Linux pela Palm para smartphones, em suas mãos poderia ser um forte concorrente no marcado dominado pelo iPad. Alguns modelos de smartphones foram lançados, sem alarde e sem sucesso, mas eram projetos da Palm e não houve motivo para preocupação. O HP TouchPad, esse sim, desenvolvido e comercializado pela propria HP é que mostraria o potencial da empresa.

A HP seguiu a mesma receita da Samsung, Motorola e RIM. Um hardware muito potente nos specs e muito fraco na prática. Em parte pela falta de cuidado no projeto, em parte pela falta de polimento no SO. Acontece que esses dois aspectos são onde a Apple brilha. Some a isso a escassez de aplicativos no momento do lançamento e você tem tablets que ninguém quer. Mas tem mais. Venda esses tablets pelo mesmo preço que o iPad. Aliás, não venda, porque eles não serão levados para casa por ninguém. Apenas um mês no mercado foi o bastante para que a HP percebesse o óbvio. Que não basta um rostinho bonito para concorrer com o iPad. É necessário um ou dois anos de projeto cuidadoso, elevado ao extremo em cada detalhe, para produzir um dispositivo ímpar. E depois vendê-lo tão barato a ponto de sangrar o caixa da empresa. Ninguém (nem a IBM) fez isso contra o Windows. Ninguém (nem a Microsoft) fará contra o iPad.

Ter um produto que venda mais que o iPad é algo tão difícil de executar (e tão perigoso) que nenhum CEO em sã consciência vai tentar convencer sua empresa a fazer. Seria preciso um CEO tão demente quanto o Steve Jobs com uma empresa tão fanática por seu lider quanto a Apple para criar um produto que concorresse com o iPad. Não vai acontecer. É uma verdade que a HP percebeu, que a RIM vai perceber em breve, que o Google vai perceber com a Motorola (mas não vai admitir nunca) e como a Samsung vai fingir não ter percebido. O iPad é o Windows da Era Pós-PC e, como tal, terá 90% do seu mercado até que o mercado decida que quer outro conceito. A diferença é que não vai durar tanto tempo. O reinado do iPad será mais breve mas tão absolutista quanto o do Windows.

Aos vencidos, as batatas
Ao perceber a eminência do xeque-mate a HP fez o óbvio. Enfiou a mão no tabuleiro e acabou com o jogo. Com um mês de mercado o TouchPad foi descontinuado. A HP aproveitou para aposentar também o webOS descontinuando o desenvolvimento de qualquer dispositivo móvel que pudesse usá-lo. E de brinde ainda falou que vai transformar sua divisão de PCs em uma empresa separada e tentar vendê-la a algum idiota outra empresa interessada em produzir porcarias baratas PCs para para empresas e consumidores. No melhor estilo "se não pode vencê-lo pegue a bola e vá embora" a HP deixa de concorrer com a Apple focando em serviços a empresas, segmento onde a maçã não atua.

A HP ressaltou que considera a hipótese de licenciar o webOS para terceiros, assim as empresas que se sentirem incomodadas com a compra da Motorola Mobility pelo Google podem usar o webOS como alternativa ao Android e ao Windows Phone 7, 8, 9...?

Isso é uma pena, porque eu acho que o webOS é a única alternativa viável ao iOS se o Google continuar mantendo o Android 3 fechado. O webOS não vai conseguir sair da casca em mais essa aventura. Porque seus concorrentes tem uma coisa que o pobre webOS não tem: um pai (ou mãe) disposto a gastar dinheiro para ver o filhote feliz. Google e Microsoft são enfiar as mãos nos bolsos e ajudar as empresas a subsidiar os custos de smartphones e tablets com Android e WP, para concorrer com o iOS. A HP, ao contrário, vai tentar cobrar para que incluam seu webOS na jogada. Não vai dar certo.

À alguém isto pode ser útil
Mas (e sempre tem um "mas") uma empresa pode usar o webOS para suas alimentar suas ambições. E pode até querer pagar por isso. Essa empresa tem como mascote um lagarto vermelho e é conhecida por uma raposa flamejante e há pouco tempo atrás anunciou que planeja desenvolver uma API que funcione via web e que gostaria até mesmo de ter seu próprio sistema operacional para smartphones. Acertou quem aí gritou Mozilla!

Eu aposto que neste momento tem alguém na Mozilla considerando licenciar o webOS para torná-lo o sistema operacional móvel da empresa. Isso faria sentido pois além do webOS estar quase pronto para o mercado ele pode ser adaptado para ser uma API que funciona sobre outros sistemas operacionais e permitiria à Mozilla criar um ambiente universal para rodar suas Apps com uma interface consistente e uniforme em vários tablets, smartphones e até nos PCs.

Como a Mozilla já anunciou a intenção de ter ambas peças, um sistema e uma API, ela poderia chegar a um acordo com a HP para usar o webOS. Poderiam dividir a receita com a venda de Apps e publicidade na plataforma. A HP poderia rentabilizar o capital já gasto com a aquisição do webOS e a Mozilla acharia uma alternativa à única fonte de receita que tem que é a pesquisa em seu navegador para PCs. Seria bom pra todo mundo e o webOS sairia vivo.

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