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sábado, outubro 27, 2007

"Não gosto de sentir medo"

Foi o que Stephanie Lenz, uma moradora da Pensilvania, EUA, disse ao explicar porque decidiu iniciar um processo judicial contra o Universal Music Publishing Group e a Universal Music Corporation. E esse processo demonstra muito bem o caos que a paranóia sobre o direito de propriedade intelectual da indústria de mídia global criou.

Forçados pelo lobby da indústria de áudio-visual os políticos dos EUA criaram uma severa legislação sobre os direitos de propriedade intelectual. Tudo bem. O problema é que a indústria agora usa essa legislação para sair cometendo qualquer tipo de desmando. O caso de Stephanie é um exemplo.

Ela gravou seu filho de 1 ano e meio dançando na cozinha de sua casa uma música do Prince chamada "Let´s Go Crazy" em um vídeo de 29 segundos. Como toda mãe vaidosa ela desejava mostrar esse vídeo para amigos e parentes da família. Ora, em pleno século 21 e na era da internet que lugar melhor que o Youtube para publicar um vídeo que se deseja mostrar à outros? Assim ela o fez.

Pouco tempo depois ela recebeu uma mensagem do Youtube dizendo que seu vídeo havia sido retirado à pedido da Universal por infringir direitos autorais. O vídeo reproduzia a música de Prince e para fazê-lo Stephanie deveria ter licenciado uma cópia para reprodução pública da música, de acordo com a visão da gravadora.

Em lugar de ficar calada, Stephanie acionou um advogado e agora o vídeo está no ar no Youtube e ela move uma ação conta a gravadora pela tentativa de censurar sua liberdade de expressão. Troco merecido pela Universal. E eu sinceramente espero pelo dia em que tantas pessoas movam ações contra gravadoras e que os valores sejam tão altos que essas empresas tenham que fechar suas portas.

Os artistas merecem que seus direitos sejam respeitados, e as gravadoras não fazem isso hoje. Do abusivo preço que um CD custa apenas alguns centavos chegam aos bolsos de seus criadores. A grande parte do dinheiro alimenta os lucros enormes das grandes empresas que não produzem absolutamente nada e tentam justificar o cenário posando como realizadoras do negócio. Esquecem que são os usuários, que agora elas processam, a única razão pela qual elas têm um negócio. E só porque não foram visionárias o bastante para entender que seu consumidor e seu mercado mudaram buscam apoiar-se em ameaças legais para coagir as pessoas. Lembrem-se do garoto recentemente preso em Los Angeles por usar uma máquina digital dentro de um cinema.

A atitude de Stephanie é edificante porque seu vídeo de 30 segundos não buscava distribuir gratuitamente material com direitos autorais. Buscava mostrar sua criança fazendo algo engraçadinho, e só. Mas isso não importou muito para a gravadora. Agora, eu torço para que esta tenha que pagar à sra. Lenz uma boa quantia, e que esse seja o prejuízo inicial apenas.

Sobre a ação que move contra a gravadora a sra. Lenz disse: "Pensei que mesmo que não tenha feito nada de errado talvez eles queiram me processar, pegar minha casa, vir atrás de mim. E não gosto de sentir medo... Não gosto do sentimento de que eu poderia me meter em encrenca por causa de algo tão simples quanto postar um vídeo caseiro para meus amigos e familiares assistirem"

Sou daqueles que precisa de trilha sonora para a vida. Tenho um mp3 player de 2GB e ando com um celular Sony Ericsson de outro 1GB. Quando não estou ouvindo um, estou com o outro. Fatalmente qualquer filmagem minha terá uma música de fundo e eu gostaria que essa insanidade acerca de direitos autorais parasse antes que eu também seja processado. Ou será que teremos que excluir a música e, quando formos filmar nossas vidas, teremos que o fazer em mute?

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segunda-feira, outubro 01, 2007

Dos formatos de arquivos

Não creio que as pessoas tenham entendido a real necessidade de usarem formatos abertos de arquivos para armazenarem suas informações. Na verdade não creio que a maioria das pessoas tenham sequer parado para pensar no assunto. No passado, quando a engenhoca mais complicada que se podia encontrar em um escritório era uma máquina de escrever era muito fácil ler documentos.

Você abria uma gaveta, pegava uma pasta com várias folhas dentro. E apresentassem elas o que fosse, planilhas, textos, gráficos, você poderia lê-los. Dia desses precisei adaptar uma de nossas apresentações de MS Power Point (sim, do Microsoft Office) para apresentar à um cliente. Costumeiramente incluímos um logotipo no material e eu não pude encontrar um web site do cliente na internet. Solicitei ao contato na equipe de vendas que providenciasse um arquivo com o logotipo.

Em 15 minutos recebi o arquivo. Infelizmente não recebi o que esperava. Em lugar de uma imagem .gif ou .jpg que eu pudesse anexar à apresentação o e-mail continha um arquivo de extensão .cdr. Arquivos de Corel Draw são muito usados para criar logotipia e testes de impressão profissional, pois são vetoriais. Entretanto, sem poder abrir o arquivo, o que eu faria com ele? Tinha, na verdade, uma informação inútil nas mãos. Para resolver o problema entrei em contato com nossa área de marketing, que possivelmente terial o Corel Draw instalado em algum(ns) PC(s). Cerca de uma hora depois a apresentação ficou pronta, com o arquivo .gif que um colega me retornou.

Essa história ilustra um exemplo de como não importar-se com o formato das informações pode trazer problemas no ambiente computacional. Diferente da época onde ser alfabetizado era tudo que se fazia necessário para entender um documento, hoje sem o formato certo de nada adianta manter a informação.

Um outro exemplo muito válido é a epopéia de Ricardo Bánffy, colunista do Webinsider. Ao ter seu celular inutilizado ele deparou-se com uma complicada recuperação do backup. Que por muito pouco não tornou-se tão inútil quanto o celular morto por conta do formato proprietário no qual o software do fabricante armazenava os dados.

Todos os dias uma empresa em algum lugar depara-se com a impossibilidade de mudar de fornecedor de software por estar presa a formatos de arquivos proprietários. Preocupados com a questão, associações de normas do mundo todo buscam maneiras de uniformizar formatos de armazenamento de informações nos computadores e decidiram, não por acaso, começar pelos pacotes de aplicativos de escritório. E estão optando por formatos abertos, bem documentados, que possam ser implementados por várias empresas em programas que concorram entre si no mercado.

Conforme iniciei o texto, não creio que muitos usuários de computador pensem sobre isso. Pode ser frustrante perder seu HD ou os dados contidos nele, por qualquer motivo, e ao recuperar o backup em um PC de um colega descobrir que ele não tem o Photoshop, o Corel Draw ou o Microsoft Office. E que os formatos de arquivos desses programas não são lidos perfeitamente por outros programas porque não são liberados por seus desenvolvedores.
E antes de sacar aquele CD de camelô de R$10 e argumentar que não é necessário pagar milhares de reais por uma licença de Photoshop pense por um instante. Talvez seu colega seja como eu e não precise do Photoshop em seu computador, ainda mais se for uma cópia pirata. Ou mais, talvez você seja como nós e também não precise, e apenas não saiba disso.

Para todos os artistas gráficos de plantão, sim seus Macs com Photoshops ainda são muito mais úteis à uma agência de publicidade do que um Linux com Gimp. Para todos os outros provavelmente um Gimp, ainda que sobre Windows, pode resolver 99,9% das necessidades diárias de edição de imagens. É muito mais uma questão de entendimento do que de utilidade. Devo, inclusive, confessar que rio em silêncio quando alguém é contaminado por vírus buscando cracks e senhas para programas piratas, como o Nero, o Photoshop, o Corel Draw e outros softwares profissionais que são absolutamente dispensáveis no dia a dia de 8 em cada 10 usuários desse planeta.

Mas deixando de lado pessoas que precisam do AutoCAD para realizar o croqui dos móveis de seus quartos e do Photoshop para tirar os olhos vermelhos das fotos de seus cachorros, voltemos aos arquivos. Deverá haver um momento na história da informática em que não fará diferença sobre qual programa de edição de textos você esteja usando. Você poderá abrir o arquivo sobre o qual eu trabalho agora, editá-lo e remetê-lo de volta à mim sem que eu consiga adivinhar qual processador você estava rodando.

Com alguma sorte isso irá acontecer com muitos outros formatos de arquivos. Teremos formatos abertos para desenhos vetoriais, para arquivos de impressão gráfica profissional, para vídeo de alta resolução e várias outras aplicações. E então você não precisará me agüentar satirizando sua escolha em relação à editores de imagens. Talvez porque, tomara, eu possa abrir seus arquivos com o meu editor, já que seu formato será livre ou ao menos aberto. E eu não precisarei vender um rim, ou me tornar pirata, apenas para editar fotografias.

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