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quinta-feira, janeiro 10, 2013

TechWars: blog sobre tecnologia

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terça-feira, outubro 30, 2012

Porque a Microsoft fracassou no mobile... por enquanto

Você pode não conhecer o arquiteto de software Ray Ozzie. Ele foi co-criador do Lotus Notes e trabalhou alguns anos na IBM. No começo dos anos 2000 ele saiu da IBM e abriu sua startup. Chamava-se Groove Networks e buscava criar um serviço de streaming e armazenamento de arquivos on-line. É o que conhecemos hoje como "Cloud" ou "armazenamento na nuvem". É o que consideramos ser o futuro da computação.

Bill Gates, depois de perder o bonde da internet, sabia que Cloud era o futuro e em 2005 a Microsoft comprou a Groove Networks. Ozzie tornou-se amigo pessoal de Gates e era o escolhido para assumir o papel de grande visionário que levaria a MS ao futuro. Ozzie juntou uma equipe de mais ou menos 50 engenheiros e passou a trabalhar em um projeto chamado Live Mesh.

O Live Mesh seria uma nova tecnologia e um serviço que armazenaria online e distribuiria em tempo real imagens, documentos e música para qualquer dispositivo compatível. PCs com Windows, X-Box, Smartphones e Tablets com Windows seriam clientes e um arquivo que você editasse em um PC seria sincronizado automaticamente com seu telefone ou video-game, por exemplo. Ou seja, em 2005, 2 anos antes do iPhone chegar ao mercado, a MS já tinha definido seu conceito de iCloud. Mas então, o que deu errado?

A equipe da divisão Windows estava trabalhando desesperadamente no Longhorn (que viria a ser o terrível Windows Vista) e em um projeto chamado SkyDrive. O SkyDrive era um sistema parecido com o Live Mesh, só que era mais um web storage à lá Dropbox, um lugar apenas para colocar seus arquivos on-line. As funcionalidades de streaming não existiam porque a MS acreditava no poder de uma loja de música como o iTunes e não em um streaming online de música como a Pandora.

O Vista estava muito atrasado e Steven Sinofsky assumiu a presidência da divisão responsável pelo Windows em 2006. Sinofsky trabalhara no SkyDrive e era visto como um dos pais da idéia do Windows Live. Imediatamente ele passou a rejeitar o conceito do Live Mesh e relatos dizem que ele via o Live Mesh como um inimigo de sua idéia. Insistiu que o SkyDrive era o futuro. Ozzie e Sinofsky travariam uma das épicas guerras que definiriam os rumos da MS e os contornos de toda uma indústria.

O Presidente da divisão Windows refutava a idéia de ter um serviço intimamente ligado ao sistema operacional que não tivesse saído de dentro de sua própria equipe. Se era relacionado ao Windows tinha que vir da divisão Windows. O Live Mesh era diferente de sua própria visão sobre como este serviço deveria ser. Sinofsky passou a torpedear todos os esforços da equipe de Ozzie para fazer o Live Mesh deixar de ser apenas um projeto.

Quase 3 anos se passaram e o Live Mesh ainda não havia sido lançado. O Windows 7 chegou ao mercado em 2009, desenvolvido sob a batuta de Sinofsky e seu sucesso deu a ele muita credibilidade. O Live Mesh ainda era um protótipo e o SkyDrive estava no MSN Mail, tínhamos um vencedor. Mas a guerra interna ainda persistia.

Em 2010 Sinofsky, na condição de dono do produto mais rentável da empresa, pediu uma reunião com Steve Ballmer. Após a reunião o presidente da Microsoft decidiu que o Live Mesh deveria ser descontinuado e que seu time seria desmontado, todos receberiam novas atribuições. Era o fim da guerra, a morte do Live Mesh e a vitória absoluta de Sinofsky e seu SkyDrive.

Em Outubro de 2010, pouco depois da decisão de Ballmer, Ozzie pediu demissão da Microsoft. Hoje a visão de Ozzie é o iCloud da Apple que atende Macs, iPhones e iPads. E o Windows 8, idealizado pelo time de Sinofsky, ainda tentará reproduzir o modelo de loja de Apps criado pela empresa de Steve Jobs lá em 2008. Também é da equipe de Sinofsky a intransigente idéia de ter duas interfaces distintas para o mesmo sistema na versão 8 do Windows. Relatos de funcionários da MS encontrados aos montes na web registram que a equipe está ciente de todo barulho e reclamação das pessoas e da imprensa sobre a dualidade de interfaces no Windows 8. Mas segundo eles a direção da empresa diz que as pessoas vão se adaptar. 

Com 23 anos de carreira dentro da Microsoft Sinofsky é visto e descrito como alguém brilhante e que combate ativamente pelas idéias que defende. É a grande esperança da MS para virar a mesa e conquistar um lugar de destaque no mundo móvel. Espera-se que o Windows 8 repita o sucesso do Windows 7 não apenas nos PCs, um mercado em franco declínio, mas também no mobile onde Apple e Google reinam absolutas.

Mas era Sinofsky quem chefiava a divisão do Office quando esta foi a grande responsável pelo fracasso dos tablet computers em 2001. A MS foi a primeira grande empresa a levar o conceito de tablet à sério. Ele tinha um processador Intel, 13 polegadas, uma caneta stylus e rodava Windows XP. Após os primeiros insucessos no mercado a MS definiu que ele teria quer ser mais portátil, ou seja, menor e mais leve.

A MS pensou em um protótipo com processador ARM e rodando Windows CE mas a divisão Office anunciou que não portaria o pacote de escritório para a nova plataforma. Mas a impossibilidade de praticar os mesmos preços em um Office Mobile reduziriam a receita e a Microsoft não via sentido em empreender recursos para criar software que seria vendido mais barato, se o software mais caro vendia como pão quente. A empresa tinha receio que o Office móvel roubasse clientes do Office desktop e isso seria ruim para os números no fim do ano. Sinofsky, encarregado da divisão do Office, passou a combater, dentro da MS, a idéia dos tablets com a força costumeira.

De acordo com sua própria visão, sem um Office o conceito de tablet fracassaria e a MS desistiu. Anos depois, enquanto a MS se preocupava com o mercado de video-games, a Apple tomou o mundo móvel de assalto e virou tudo de cabeça pra baixo. Hoje o iPad, sem Windows e sem Office, é o modelo único de computador pessoal mais vendido da história. E a MS continua tentando entender como produzir algo que rivalize com o iPad e o iPhone. Será Sinofsky quem ajudará a MS a conseguir isso?

Sinofsky, apesar de ser formado em Ciência da Computação, é a demonstração clara do que acontece quando um homem de negócios vence uma disputa contra um profissional técnico. E apesar de estar copiando a Apple em muitas coisas atualmente, até na cor do uniforme dos funcionários das lojas, há uma lição de Jobs que Sinofsky ainda não aprendeu. Se você não se canibalizar, alguém fará isso por você. É por isso que a Microsoft deveria estar preocupada em desenvolver um substituto para o Windows e não uma nova versão dele.

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quarta-feira, junho 27, 2012

A Microsoft deveria abandonar o nome Windows

Eu já escrevi sobre como o iPad é uma força de mercado e nem Google ou Microsoft conseguirão causar grande abalo na trajetória do primeiro dispositivo da era Pós-PC. A Apple conseguiu consolidar o produto e associar a categoria ao seu nome. As pessoas não compram outros tablets, elas compram o "iPad da Samsung" quando adquirem um Galaxy Tab.

É a mesma coisa que o Windows fez com o mercado de SO para PCs. Não faltaram concorrentes, não faltou alternativa a preços menores. O que faltou foi uma solução matadora. Deixe-me explicar melhor. Nenhum consumidor compra um produto. O consumidor compra uma solução para um problema. O primeiro passo é que o consumidor tem que achar que tem um problema. Ninguém vai comprar veneno de rato se não tiver ratos em casa dos quais queira se livrar. O Linux e o OS/2 Warp falharam em concorrer com o Windows como solução, não como produtos.

Todo mundo que usa Windows já teve problemas com ele. Vírus, coisas que param de funcionar sozinhas, vírus, lentidão, vírus, gerenciamento de memória pobre, vírus, multi-tarefa deficiente, vírus, e outros, muitos outros problemas que todo mundo cansou de ver. Quem não entende nada de computador de vez em quando diz "meu computador está lento, acho que preciso formatar e reinstalar o Windows". Viver com o Windows é assim mesmo e todo mundo se acostumou, do mesmo jeito que se acostumou com os resfriados de inverno. Não tem remédio pra isso, então fazer o quê?

Ao serem apresentados ao Linux, os usuários torcem o nariz, é diferente, não roda os programas que eu uso, tipo o Photoshop, o AutoCad, o MovieMaker. Não faz diferença se existe Gimp e a pessoa não precisa do Photoshop. O Gimp também tem versão para Windows afinal, mas todo mundo se acostumou a ser criminoso e pagar R$10 pelo CD com a última versão do Office não é um incômodo tão grande assim.

Nenhum argumento da IBM, em prol do OS/2, ou da comunidade, em prol do Linux, convenceu as massas de que o Windows era ruim. E as pessoas se acostumaram com ele, mesmo sendo ruim. Fim de papo.

Tablets
Mas surgiram os tablets. Em 2001 a MS apresentou protótipos de notebooks sem teclado operados por uma caneta stylus usando Windows XP. O mercado achou aquilo uma babaquice. Pra que diabos eu vou querer um notebook sem teclado? O erro da Microsoft, você sabe, foi ter uma interface criada para usar teclado e mouse sendo operada por uma canetinha. Era contra-produtivo demais para dar certo. E não deu.

O mercado recusou o tablet da Microsoft e a empresa entendeu, erroneamente, que o conceito era o problema. Na verdade o problema era o Windows que não estava adaptado para uma interface de toque e que tinha os controles e botões desenhados para serem operados com um mouse. A paixão pelo seu Windows impediu a empresa de entender que ele era o problema e que com outra interface o conceito poderia ser aceito.

Smartphones
A MS tentou emplacar o Windows em todos os lugares. A estratégia, chamada Windows Everywhere, era a de ter o Windows ao redor das pessoas de forma que elas entendesse que sua vida não seria possível sem o sistema. Onipresente, o Windows dominaria os outros mercados de sistemas operacionais. Até fazia algum sentido, pois as pessoas poderiam querer em seus celulares, tablets, GPSes o mesmo sistema que elas usavam, e no qual confiavam, em seus PCs.

A MS só não previu o fato de que a maioria das pessoas não contam, confiam e gostam do Windows. Elas usam o sistema nos PCs porque são obrigadas. Algumas, como eu, até mesmo odeiam o Windows. Mas não existe uma alternativa viável a não ser comprar um Mac ou abrir mão dos seus programas e ir pro Linux. Se as pessoas não fossem preguiçosas elas até o fariam, mas o comodismo fala mais alto. Só que quando se trata de outros dispositivos, existem alternativas e na maioria dos mercados elas estão estabelecidas e o Windows era o entrante. Mas para a empresa isso não seria o problema, em sua visão as pessoas gostariam de ter o Windows e o Office no bolso e comprariam um dispositivo móvel que entregasse a dupla como um PC.

A MS fez uma salada de nomes e versões diferentes que é difícil de desmembrar tentando vender celulares com o Windows. Você não vai saber dizer a diferença entre Windows CE, Windows Mobile, PocketPC e Windows Phone facilmente. Foram todos tentativas de emplacar PDAs, PocketPCs e Smartphones que não deram certo. O mercado ficou meio bagunçado até a chegada do iPhone, quando todo mundo identificou o produto que deveria fazer. A imagem abaixo mostra como os telefones eram antes do iPhone e como eles ficaram depois.

A Apple, que nunca fizera um telefone na vida, acertou de primeira e agora todos os concorrentes tinham um modelo de sucesso para copiar. O Sistema Operacional do aparelhinho em nada lembrava um SO convencional de PC e não havia a menor preocupação com entregar um Office ou qualquer outro paralelo com um PC. A Microsoft ficaria 3 anos tentando entender porque o mercado rejeitou seu Windows Mobile + Office e abraçou o iOS sem nada até lançar, em 2010 o Windows Phone. Mas até a reação da MS a Apple ainda lançou outro conceito campeão.

iPad
No começo de 2010 a Apple apresentou ao mundo a sua visão de tablet. O conceito fracassado da Microsoft foi minimizado em tudo. Tela menor, sem HD, com menos memória e em vez de um processador x86 um ARM. Em vez de um sistema operacional pleno, de PC, o mesmo iOS do iPhone. Ridicularizado pela MS o iPad foi tido como um telefone com tela maior, com pouca utilidade. Bill Gates disse que não via uma única razão pela qual gostaria que fosse a MS a lançar aquele produto no mercado. Tornou-se um dos maiores sucessos comerciais da história da indústria eletrônica tendo vendido 67 Milhões de unidades em pouco menos de 2 anos. Você acha que, dado o retrospecto, o iPad teria vendido mais se rodasse Windows? A Microsoft acha que sim.

A resposta ao iOS
Ainda em 2010 a MS lançou o Windows Phone. Uma nova fase no desenvolvimento do sistema móvel que deveria competir em condições de igualdade com Android e iOS. Não funcionou. Exceto por poucos modelos de algumas fabricantes o sistema não encontrou grande aceitação. Novamente a empresa entendeu que o problema era o hardware e em 2011 a MS anunciou um acordo com a Nokia para que a empresa finlandesa ignorasse o mercado e fizesse smartphones exclusivamente com o Windows Phone.

Enquanto todas as outras empresas do mercado se matam para adaptar o Android aos seus aparelhos e para acalmar os usuários que solicitam versões mais recentes do sistema a Nokia teria que focar apenas no hardware e deixar o sistema à cargo da MS. Não está funcionando. As vendas decepcionam e já foi anunciado que mesmo os últimos modelos de Nokia Lumia lançados com o Windows Phone 7.5 não receberão o novo WP8 a ser lançado em breve. Isto não ajudou nas vendas e parece certo que a Nokia terá problemas graves em um futuro próximo. Enquanto isso nunca se ouviu seque menção à possibilidade de haver um tablet com Windows Phone. E a MS vai tentar mais uma vez.

Windows 8
Ao anunciar seus planos para a próxima versão do Windows, a 8, a MS enfatizou que o sistema terá uma versão para processadores ARM que rodará em tablets. A despeito de alguns protótipos sugeridos por gatos pingados e MS parece ter mantido o entendimento que teve em 2001. O problema era o hardware. E para tentar entrar de vez no jogo da computação móvel decidiu ter um equipamento próprio para competir com o iPad.

O iPad da Microsoft
Foi assim que um colega de trabalho se referiu ao MS Surface quando perguntou se eu havia visto o vídeo da apresentação. Na verdade ele se referia ao vídeo do travamento do Surface nas mãos do Steve Sinofsky, VP da divisão Windows da Microsoft. E é assim que o Surface, e todo e qualquer competidor desse mercado, vai ser chamado: o iPad da Empresa Tal... Porque a Apple colocou a barra em um nível muito alto que qualquer outro competidor vai ter que atingir para ter o seu nome lembrado no lugar do iPad.

E não é só isso. Como as vendas do HP TouchPad mostraram depois que seu preço caiu para US$99,00 o preço vai ser muito importante. Na visão do mercado qualquer produto que ofereça "apenas" o que o iPad já tem deve ser mais barato. É o preço que se paga por chegar dois anos depois. Para vender pelo mesmo preço que um iPad um outro Tablet deve oferecer muito mais. E ninguém parece pronto para isso, nem mesmo a Microsoft.

Discutir por que o Surface é apenas mais um produto "eu também tenho" está além das minhas ambições aqui neste artigo. O fato é que enquanto tem gente bastante empolgada com a possibilidade de um (mais um) tablet rodando Windows chegar ao mercado é fácil encontrar na web, entre especialistas e usuários comuns, um pouco de frustração.

Cachorro velho não aprende truque novo
Primeiro porque o fato de a MS trazer à luz um tablet próprio demonstra que ela continua achando, assim como em 2001, que o Windows não decola no mercado móvel por culpa do hardware. Em lugar de trazer um tablet Nokia ou de pedir ao mercado OEM que fizesse um (como o Google faz com o Nexus da Asus) ela arregaçou as mangas e foi atrás do modelo Apple.

A Apple pode controlar o hardware e software porque faz isso em todos os campos onde atua. Será que a Asus vai se esforçar muito para promover um tablet com Windows sabendo que o grande concorrente será a própria Microsoft? E como vai ficar o relacionamento delas no mercado de SO para PC? Será que as empresas que fabricam PCs Miojo e tablets e já buscam no Android do Google uma alternativa de receita não tentarão também um contato maior com a Canonical para saber mais sobre o Ubuntu? Lembre-se, em um mundo onde tudo é dinheiro, assim que valer a pena empurrar PCs com Linux no mercado isso será feito. Os integradores apenas ainda não chegaram nesse ponto.

E a parceria com a Nokia, tão feliz nos smartphones mas renegada nos tablets. A Nokia fará um tablet para concorrer com o iPad e o Surface?

Uma cobra engolindo seu próprio rabo
Segundo que ao mesmo tempo que em tem uma receita anual de ao menos US$444Milhões com o Android e de US$600Milhões com o Windows Phone, promover o Windows no mercado móvel pode ser a analogia financeira de uma cobra engolindo seu próprio rabo. Os dispositivos com Windows devem avançar sobre o mercado do Android e dos PCs. Mas devem afetar pouco as vendas de iPads e iPhones. Ao entender que os clientes da Apple compram uma combinação de software e hardware a MS parece estimulada a ter seu próprio tablet. Mas no caminho vai criar atrito com todas as outras empresas que poderiam vender tablets Windows. Isso aconteceu no mercado de telefones, não temos mais modelos de Samsung, HTC e LG com Windows Phone porque a parceria com a Nokia esfriou os ânimos. O mesmo vai acontecer nos tablets.

E as vendas que ocorrerem estarão focadas nos clientes que, sim, gostariam de um Windows móvel consigo e que portanto estarão deixando de lado seus PCs com Windows para usarem smartphones e tablets com Windows. O quadro mais improvável é um usuário de Mac trocando o iPhone por um Lumia e o iPad por um Surface. Então o Surface estará avançando sobre um mercado que já é do Windows de qualquer maneira ou que na melhor das hipóteses era disputado  pelo Android e pelo iOS. É a própria definição de canibalização.

Enfim a mudança de nome
Em termos rápidos, mudar o nome do sistema móvel e deixar a marca Windows para trás tem muitas vantagens e poucas desvantagens. A MS já perdeu o cliente móvel para a concorrência. Olhe ao redor e veja quantos usuários de Windows tem iPhones ou Androids. Ao insistir na marca Windows ela cola no sistema móvel o que existe de bom e também o que há de ruim. Sua aposta é que as coisas boas são mais importantes. Errado.

Os fãs da MS e os clientes da plataforma continuariam na plataforma da empresa qualquer que fosse seu nome. Uma troca rápida e uma publicidade focada na compatibilidade resolveria todas as dúvidas dos clientes. Aqueles que tem restrições ao nome Windows e à Microsoft poderiam achar que, por tratar-se de algo novo, aquilo mereceria um teste, ou no mínimo um olhar mais cuidadoso. Um novo nome também acabaria com o problema de um Marketplace vazio de Apps afinal de contas quem esperaria que um sistema lançado ontem tivesse milhares de Apps. Mas o Windows, com seu nome, tem que ter milhares de Apps antes que eu compre um telefone.

Um novo nome também acabaria com o problema de incompatibilidade com os Lumia já fabricados. É absurdo um smartphone novinho que saiu de fábrica com o WP 7.5 não ser atualizado para o WP 8. Mas se fosse um novo nome a idéia de um sistema totalmente novo faria disso um fator menor, e até natural. Também permitiria à MS minimizar os problemas do sistema, os bugs e as reclamações de coisas que estão faltando. Afinal é um sistema nascido ontem, é claro que o App de email dele não suporta IMAP.

Um sopro de ar fresco
Mas mais que tudo isso, um novo nome daria a chance de um novo começo. O Windows já fracassou tantas vezes fora do PC que suas melhores chances são de fracassar novamente. Todo o mercado já espera que de errado de novo, afinal é a 4 vez que a MS tenta ter um sistema móvel. O que seria diferente agora? O Windows móvel já teve Office antes e isso não mudou nada. Agora eles tem a interface Metro, e daí? É só o Windows com outra skin. As tentativas de ligar isso com o legado do PC estão gerando reações adversas e a interface Metro no Windows 8 não vai ajudar. Muita gente vai estranhar e reclamar e quando souberem que a mesma interface está no telefone e no tablet vão querer evitar essas coisas.

O que a MS precisa perceber é que as pessoas adotaram o Windows no PC por falta de opção e isso não significa que o mercado móvel vai repetir a adoção do Windows. Um novo nome seria um alívio para uma plataforma que não pode ter recepção dúbia no mercado. Para ganhar do iPhone e do iPad o Windows (Phone) 8 deveria ser uma unanimidade, mas não é.

O velho erro se repete
O tablet e o smartphone já fracassaram nas mãos da MS antes por culpa do legado. A afeição pelo Windows e pelo Office, suas maiores vacas leiteiras, já impediram a MS de inovar antes. O fato do presidente da divisão Windows apresentar o Surface é prova disso. Uma peça de hardware sendo apresentada pelo VP do Sistema Operacional? É o diagnóstico da miopia.


O Surface é uma plataforma nova, um lugar aonde a empresa Redmond nunca esteve antes. Deveria ter uma equipe própria, que demandasse o time de SO por ajustes e soluções e não o contrário, um esforço para levar o velho Windows para o mercado móvel. A MS deveria tratar o Surface como o XBOX, e criar uma divisão de negócios só para ele e deixar ela capitanear os destinos do produto.


A MS decidiu copiar a forma como a Apple dominou o mercado, com hardware e software feito em casa. Mas não fez toda a lição de casa. A Apple usou um nome de SO novo, uma outra interface e, só agora depois de 2 anos está ligando os pontos dos sistemas móveis e desktop. Esse era o caminho que a MS deveria seguir, lançar um novo SO para o móvel com interface Metro e depois de dois anos, se bem aceito pelo mercado levar isso para o desktop. A necessidade de se mostrar inovadora está iludindo a MS.


Tudo por dinheiro
E porque a MS está nesta batida? Porque enquanto a MS ganha cerca de US$55 por PC vendido com Windows a Apple faz US$195 por iPad e US$600 por Mac vendido em média. A MS quer um mercado de tablets tão lucrativo quando o da Apple ou então em mais alguns anos a Apple vai dominar também o mercado de PCs. Para a MS a única forma de proteger sua posição é aumentar suas receitas uma vez que o mercado de PCs com Windows está derretendo, não em números mas em margem. Em mais alguns anos a MS terá de oferecer o Office como um serviço pela web e não mais em caixas. E boa parte de sua margem vai sumir.


A questão é que a divisão Windows é muito forte dentro da MS e pode se dar ao luxo de ditar a forma como as coisas vão acontecer. Mesmo desistindo da estratégia de Windows em qualquer lugar e oferecendo Linux em sua nuvem fica claro que ter Windows nos telefones e tablets é uma decisão corporativa acima de qualquer discussão. Entretanto a falta de prazo e de uma estimativa de custo na apresentação do Surface e a similaridade com a apresentação do iPad mostram que a empresa está mais longe do que quer do que faz crer.


Eu criaria uma nova divisão dentro da empresa e pediria aos meus engenheiros "estamos entrando em um mundo novo, que não conhecemos, comecem tudo do zero. Esqueçam tudo que já fizemos até hoje". E começaria do zero mesmo, inclusive com um novo nome.

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sexta-feira, agosto 26, 2011

Vinte anos de Linux

No último dia 25 de Agosto o Linux completou 20 aninhos. Existe um artigo no Ars Technica muito bem escrito e interessante sobre a história, a motivação e o resultado dessa trajetória que eu recomendo a você. Se você não conseguir ler em inglês ou estiver com preguiça o vídeo abaixo conta a história de forma lúdica e bem-humorada e tem legendas se você ativar o botão CC.



Aqui eu quero falar de outra coisa. Quando o Linux nasceu, em 1991, o Windows estava em sua versão 3.0 e era (pasmem) muito pior do que é hoje (sim, é possível). E ainda que desde então o Linux não tenha incomodado muito o Windows em termos de dominância de mercado é inegável que o Linux ajudou a moldar o sistema que o Windows é hoje. Para comprovar isso basta revisar a evolução da preocupação com segurança dos engenheiros da Microsoft. O Windows 7 possui uma preocupação com a segurança e com a separação dos usuários que existe, provavelmente, para concorrer com o Linux no mercado corporativo.

A instalação do Windows também passou a ser mais modular e flexível para proporcionar aos administradores de redes instalar o sistema em lotes de máquinas com menos esforço. São pequenas coisas que talvez não estivessem no Windows se outro sistema não as oferecesse. Não estou acusando a MS de plágio, cópia nem nada disso. São inovações que tem deixado o Windows melhor para quem precisa, ou gosta, dele. São os efeitos positivos da concorrência.

Mas o Linux também ajudou a dar outras formas para outras paisagens. Ele carrega uma parcela de culpa por perdermos duas das mais inovadoras empresas da história da TI: Sun e Silicon Graphics. Ambas não souberam competir com máquinas baratas baseadas em Intel x86 rodando um clone livre (e gratuíto) de UNIX. Não faliram por culpa do Linux, mas perderam grande parte de sua receita por não conseguir inovar a tempo. Essa perda de receita pode ter sido o começo do fim.

O mercado de Unix também foi bastante afetado pelo surgimento e posterior evolução do Linux e nomes tradicionais do segmento como HP e IBM também sentiram o peso de brigar contra um sistema tão inovador no conceito e na disponibilidade. A IBM se rendeu e mesmo tendo mantido o AIX em linha aprendeu a integrar o Linux em boa parte de sua gama de ofertas. A HP foi mais resistente e não se destacou muito mais do que já tinha conseguido fazer desde o final da década de 1990.

Mas pessoalmente eu considero o Linux um dos grandes responsáveis pelo boom da TI nos anos 2000. Junto com o Apache httpd e com o MySQL o Linux deu à milhares de jovens empreendedores e suas startups ferramentas que, se licenciadas de vendedores tradicionais, custariam dezenas de milhares de dólares. Muitos dos melhores negócios da era da internet jamais teriam acontecido se seus idealizadores tivessem que pagar por licenças de Windows, IIS e Oracle. O Linux foi o primeiro sistema operacional de servidores que você poderia usar para começar seu negócio sem ter que empenhar a casa para licenciar.

Esse aspecto é fantástico porque coloca o Linux em uma galeria de ferramentas de valor amplamente disponíveis onde só estávamos acostumados a ver coisas imateriais. Você acharia absurdo ter de pagar uma licença para poder usar matemática financeira para escrever um Business Plan. Em nosso conceito a matemática é uma ferramenta que deve ser disponibilizada de graça a todos que precisam. Mas um software não. O engraçado é que para desenvolver a matemática milhares de gênios também trabalharam muito tempo para parece absurdo remunerar algum deles (ou seus acionistas) por sua valorosa contribuição.



O mundo de TI, com seu egoísmo e egocentrismo, tornava absurda a idéia de dar de graça algo tão poderoso como um sistema operacional Unix. E calma, eu sei que o BSD já existia desde 1977, mas ele tinha parte importante do código fechado de forma proprietária e é apenas a partir de 1991 que ele passa por iniciativas de abertura. Até hoje o Linux é mais popular que os sabores de BSD quando pensamos em software livre e pode-se dizer (em minha opinião) que boa parte da evolução do BSD também foi moldada pelo Linux. A partir da popularização do Linux nos meios acadêmicos e no mercado Unix é que fica barato iniciar uma empresa de tecnologia, pois o investimento em licenças de software fica muito baixo.

Se uma licença de AutoCad pode custar US$2.500 um sistema operacional de servidores custaria uns US$10.000. Se assim fosse quantos dos serviços que você usa hoje na web seriam viáveis. Lembre que só é possível dar espaço de graça a um blog como este aqui porque a pilha de software que roda para manter isso funcionando tem custo insignificante.

Até mesmo o mundo Mac sofreu influencias do Linux. Ao apresentar a primeira versão do Mac OS X Server em 2000 Steve Jobs fez questão de ressaltar a semelhança do kernel Darwin com o Linux em termos de características. Steve ressaltou também que era Open Source, pois naquele momento parecia que para um novo sistema dar certo ele teria que ser aberto como o Linux era. E ainda que nesse ponto a Apple tenha voltado atrás e fechado tudo é inegável que o Linux moldou parte dos conceitos que serviram como guias para o Mac OS X. A comparação com o Linux está perto dos 3 minutos do video abaixo.


Mas ainda há um mundo que foi alterado pelo Linux mais do que o PC. O mundo dos dispositivos móveis. Hoje um sistema baseado em Linux é o lider de vendas (ao menos  nos EUA onde dados são publicados, mas acho que os dados dos EUA se repetem no resto do mundo neste mercado específico) no segmento dos smartphones. Em 1991 ninguém adivinharia que o sistema criado para operar servidores e workstations de programadores iria achar seu grande sucesso em pequenos computadores operados por baterias com minúsculas CPUs de baixo poder de processamento.

Os dispositivos aplicados também encontraram no Linux uma grande força e coisas como TVs, roteadores, modems, etc, usam Linux e são muito melhores por isso. Você pode não saber mas seu roteador provavelmente usa Linux e se não usasse ele possivelmente seria mais caro de ser produzido e você teria pago um valor maior nele. E como o Linux passou a ter papel importante na internet, seja operando um modem, seja tocando um cluster de 80mil máquinas para o Google, faz parte da vida de bilhões de pessoas todos os dias, mesmo que elas não saibam ou percebam.

E estes foram apenas os primeiros 20 anos. Parabéns Linux.

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Quem faria bom proveito do webOS

Prólogo
O mundo da indústria de TI parece cada vez mais maluco. O PC está virando uma espécie de commodity, aquele tipo de coisa que você compra sem pensar pois sabe que precisa de qualquer jeito, como gasolina. E ainda assim apresenta vendas estagnadas. Qualquer estacionamento de esquina tem um PC funcionando. Bancos, lojas de departamentos, supermercados, aonde quer que existam filas de consumidores há dezenas de PCs. Todos conectados em rede fazendo suas tarefas de formiguinha.

Em casa todo mundo tem (ao menos) um. Pelo menos todo mundo que está acima da linha da pobreza. E no primeiro a maioria das casas tem mais de um. E fica fácil de entender porque as vendas não evoluem. Diferente da gasolina não se compra PC toda semana. E como os Sony Vaio ficaram muito parecidos com os Acer (por dentro e por fora) o consumidor começou a achar que PC é igual Miojo, não importa o sabor que está escrito na embalagem todos tem o mesmo gosto.

No mundo do PC miojo commodity o mercado (ao menos nos EUA) passou a procurar diferenciais. E ainda que fosse impossível encontrar algum PC diferente por dentro a Apple estava oferecendo PCs diferentes por fora. E bem diferentes. Não conheço alguém que ache os Macs feios e todo mundo que já pensou em gastar mais do que R$4mil em um notebook certamente estava encarando um MacBook em alguma vitrine da vida.

E a explosão de mercado dos Macs aconteceu. Sim, explosão. Nos EUA eles já são responsáveis por mais de 10% da base instalada de computadores e no mercado de notebooks com preço superior a US$999 Macs respondem por 60% das escolhas dos consumidores. Na verdade quando se fala de computadores caros praticamente só se vende Macs. Os PCs se tornaram a escolha de quem tem um orçamento apertado ou precisa de uma máquina com propósitos absolutamente genéricos. Esse movimento é tão forte que tornou a Apple o quinto maior fabricante mundial de PCs. Seria pouco não fosse o fato de que a margem por máquina vendida da Apple é seis vezes a obtida pela HP. Ou seja, a HP precisa vender 6 máquinas para conseguir o mesmo lucro que a Apple por cada PC entregue. Mas a HP não tem 60% do mercado. Isso significa que no mundo dos PCs miojo commodity quem mais ganha dinheiro é quem não transformou seu PC em miojo nem em commodity.

E por que isso é importante? Porque gerou momento e confiança para a Apple partir para o movimento da Era Pós-PC.

Deixando o PC para trás
A Apple capturou a atenção do mercado de tal forma que sentiu confiança para criar um tablet. Ela já tinha tentado ter um PDA antes, o Newton, quando o PDA parecia ser o bicho que destronaria o PC. A Palm não deixou que as ambições da Apple se tornassem realidade. Mas a maioria das pessoas olhava para o Palm e perguntavam: pra quê preciso disso? Para nada. E ele não destronou o PC.

O tablet não era novidade, a MS já havia demonstrado dezenas de vezes um notebook sem teclado rodando Windows XP. Mas as pessoas não queriam Windows nem em seus computadores, quem diria tê-lo em ainda mais dispositivos? Não me critique, essa é a verdadeira razão pela qual o Windows não vingou em nada que não seja um PC. As pessoas não querem aquilo em seus telefones, carros, GPS, etc. E se 90% da população do planeta fosse rica era o Mac OS quem teria 90% do mercado de sistemas operacionais. O share do SO da Apple condiz com o share da população que tem grana sobrando para comprar um computador. Ou seja, se as pessoas tivessem dinheiro para escolher não usariam Windows.

Mas mesmo depois de o mercado ter recusado o conceito de tablet algumas vezes a Apple sentiu-se confortável para tentar. Os sucessos de iPod e iPhone somados à grande tração dos Macs no mercado parece ter gerado na Apple a certeza de que sua versão para um conceito perdedor seria um sucesso. E foi mesmo. O iPad é uma unanimidade e a Apple vende todas as unidades que consegue fabricar. Para o varejo isso é uma festa, quando mais iPads se compra, mais se vende. É como vender água no deserto.

A Apple sorri e diz que inaugurou a Era Pós-PC, onde as pessoas só precisam de um PC quando vão fazer algo muito complexo do ponto de vista técnico, como desenvolver uma aplicação para o iPad. E os fabricantes de PC, o que dizem dessa coisa de Era Pós-PC? Eles concordam!!! Como assim?

O que não tem remédio, remediado está
Os fabricantes de PC concordam que a Apple inaugurou a Era Pós-PC porque assim parece que a Apple está batendo nas empresas de equipamentos de telefonia móvel. Porque ele é um dispositivo de acesso à internet móvel. Se os fabricantes de PC quisessem que o iPad fosse classificado como um computador eles estariam em apuros porque a Apple então se tornaria a maior fabricante mundial de computadores pessoais, ou PCs. Nada mal pra quem estava falida em 1996 não? É melhor admitir que seu produto está uma geração defasado do que assumir que você não consegue competir em seu próprio campo com uma empresa que não leva o mercado corporativo a sério.

Se somarmos as vendas de Macs e iPads a Apple é a empresa que mais vende computadores no mundo. Mas a indústria do PC fez questão de dizer, ei isso não é um PC. É um legítimo representante da Era Pós-PC, portanto não é problema nosso. Quem foi tentar concorrer com o iPad? As fabricantes de celulares, obviamente. Mas elas nunca tinham feito computadores ou sistemas operacionais como poderiam fazer algo além do PC sem nunca ter feito um PC? Bom, elas não fizeram. Até agora nenhum produto foi capaz de superar o iPad. Tentaram e falharam as então gigantes do mercado de telefones RIM (BlackBerry), Motorola, Samsung e HP. HP????? O que a HP está fazendo nesta lista?

Comprei um par de asas, acho que posso voar!
A HP adquiriu a Palm para entrar no mercado de smartphones, tablets e sistemas operacionais móveis. Por alguma razão a direção da HP achou que gastar 1,2bi de dólares para entrar em um mercado ainda mais competitivo e com ainda menores margens que o de PCs era uma grande idéia. A HP acreditou que o webOS, um brilhante SO desenvolvido sobre o Linux pela Palm para smartphones, em suas mãos poderia ser um forte concorrente no marcado dominado pelo iPad. Alguns modelos de smartphones foram lançados, sem alarde e sem sucesso, mas eram projetos da Palm e não houve motivo para preocupação. O HP TouchPad, esse sim, desenvolvido e comercializado pela propria HP é que mostraria o potencial da empresa.

A HP seguiu a mesma receita da Samsung, Motorola e RIM. Um hardware muito potente nos specs e muito fraco na prática. Em parte pela falta de cuidado no projeto, em parte pela falta de polimento no SO. Acontece que esses dois aspectos são onde a Apple brilha. Some a isso a escassez de aplicativos no momento do lançamento e você tem tablets que ninguém quer. Mas tem mais. Venda esses tablets pelo mesmo preço que o iPad. Aliás, não venda, porque eles não serão levados para casa por ninguém. Apenas um mês no mercado foi o bastante para que a HP percebesse o óbvio. Que não basta um rostinho bonito para concorrer com o iPad. É necessário um ou dois anos de projeto cuidadoso, elevado ao extremo em cada detalhe, para produzir um dispositivo ímpar. E depois vendê-lo tão barato a ponto de sangrar o caixa da empresa. Ninguém (nem a IBM) fez isso contra o Windows. Ninguém (nem a Microsoft) fará contra o iPad.

Ter um produto que venda mais que o iPad é algo tão difícil de executar (e tão perigoso) que nenhum CEO em sã consciência vai tentar convencer sua empresa a fazer. Seria preciso um CEO tão demente quanto o Steve Jobs com uma empresa tão fanática por seu lider quanto a Apple para criar um produto que concorresse com o iPad. Não vai acontecer. É uma verdade que a HP percebeu, que a RIM vai perceber em breve, que o Google vai perceber com a Motorola (mas não vai admitir nunca) e como a Samsung vai fingir não ter percebido. O iPad é o Windows da Era Pós-PC e, como tal, terá 90% do seu mercado até que o mercado decida que quer outro conceito. A diferença é que não vai durar tanto tempo. O reinado do iPad será mais breve mas tão absolutista quanto o do Windows.

Aos vencidos, as batatas
Ao perceber a eminência do xeque-mate a HP fez o óbvio. Enfiou a mão no tabuleiro e acabou com o jogo. Com um mês de mercado o TouchPad foi descontinuado. A HP aproveitou para aposentar também o webOS descontinuando o desenvolvimento de qualquer dispositivo móvel que pudesse usá-lo. E de brinde ainda falou que vai transformar sua divisão de PCs em uma empresa separada e tentar vendê-la a algum idiota outra empresa interessada em produzir porcarias baratas PCs para para empresas e consumidores. No melhor estilo "se não pode vencê-lo pegue a bola e vá embora" a HP deixa de concorrer com a Apple focando em serviços a empresas, segmento onde a maçã não atua.

A HP ressaltou que considera a hipótese de licenciar o webOS para terceiros, assim as empresas que se sentirem incomodadas com a compra da Motorola Mobility pelo Google podem usar o webOS como alternativa ao Android e ao Windows Phone 7, 8, 9...?

Isso é uma pena, porque eu acho que o webOS é a única alternativa viável ao iOS se o Google continuar mantendo o Android 3 fechado. O webOS não vai conseguir sair da casca em mais essa aventura. Porque seus concorrentes tem uma coisa que o pobre webOS não tem: um pai (ou mãe) disposto a gastar dinheiro para ver o filhote feliz. Google e Microsoft são enfiar as mãos nos bolsos e ajudar as empresas a subsidiar os custos de smartphones e tablets com Android e WP, para concorrer com o iOS. A HP, ao contrário, vai tentar cobrar para que incluam seu webOS na jogada. Não vai dar certo.

À alguém isto pode ser útil
Mas (e sempre tem um "mas") uma empresa pode usar o webOS para suas alimentar suas ambições. E pode até querer pagar por isso. Essa empresa tem como mascote um lagarto vermelho e é conhecida por uma raposa flamejante e há pouco tempo atrás anunciou que planeja desenvolver uma API que funcione via web e que gostaria até mesmo de ter seu próprio sistema operacional para smartphones. Acertou quem aí gritou Mozilla!

Eu aposto que neste momento tem alguém na Mozilla considerando licenciar o webOS para torná-lo o sistema operacional móvel da empresa. Isso faria sentido pois além do webOS estar quase pronto para o mercado ele pode ser adaptado para ser uma API que funciona sobre outros sistemas operacionais e permitiria à Mozilla criar um ambiente universal para rodar suas Apps com uma interface consistente e uniforme em vários tablets, smartphones e até nos PCs.

Como a Mozilla já anunciou a intenção de ter ambas peças, um sistema e uma API, ela poderia chegar a um acordo com a HP para usar o webOS. Poderiam dividir a receita com a venda de Apps e publicidade na plataforma. A HP poderia rentabilizar o capital já gasto com a aquisição do webOS e a Mozilla acharia uma alternativa à única fonte de receita que tem que é a pesquisa em seu navegador para PCs. Seria bom pra todo mundo e o webOS sairia vivo.

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